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Aproveitámos a pausa dos jogos no Euro 2016 para entrevistar Carlos Daniel, uma das maiores figuras do desporto em Portugal. Cara conhecida dos portugueses como apresentador do Jornal da Tarde na RTP, moderador de programas políticos e comentador em programas sobre futebol. São estas as suas funções enquanto jornalista, uma das pessoas em Portugal que procura discutir o jogo e não os assuntos de bastidores. Num momento em que é presença diária nas noites da RTP nos programas de análise e comentário ao Euro 2016, disponibilizou algum tempo da sua preenchida agenda para responder às nossas perguntas.

 

Paixão pelo Jogo

ProScout: Como surgiu esta paixão pelo futebol?

Carlos Daniel: Quando me dei conta já existia. Muito por influência do meu pai – que foi futebolista amador, treinador de formação e dirigente. Em boa parte, cresci num campo de futebol.

 

PS: O futebol é um desporto de memórias e sonhos. Quais são as primeiras recordações que guarda e com o que é que sonhava ser quando era criança?

CD: As primeiras são das idas ao campo do União de Paredes, o Campo das Laranjeiras, ao domingo à tarde com a família, mais as viagens no meio dos miúdos da formação – eu muito mais miúdo ainda – as peladas de rua com os meus irmãos e amigos, as primeiras colecções de cromos e o “jogador carimbado”.

 

PS: Considera que o facto de não ter sido jogador, apesar do talento que lhe era visto, contribui para que se tenha dedicado à análise do fenómeno, ou acredita que, fazendo uma retrospectiva rápida da sua vida, o seu caminho desembocaria sempre nesta função que exerce? Já recebeu alguma proposta para se dedicar à análise do jogo em exclusivo?

CD: Claro que ter jogado pode ajudar, mas a paixão pelo jogo tem a ver com isso mas tudo o resto. Como explicar o barulho dos pitons à saída do balneário? Antes de ser analista/comentador de futebol sou jornalista, essa é que é a minha vida. E não, nunca me convidaram para me dedicar só à análise do jogo.

 

PS: Falamos muito de futebol mas não do jogo. Como é que podemos alterar esta mentalidade que está implementada no futebol português? Julga que a comunicação social, mais particularmente a televisão, com a sua luta pela audiência, influencia esse facto ou, pelo contrário, acha que a comunicação social serve os interesses do auditório?

CD: Penso que o caminho feito nos últimos anos não pode ser desvalorizado. É verdade que há mais programas “de adeptos” mas também se fala mais (e melhor) do jogo noutros programas. Vejo a garrafa meio cheia. E claro que as televisões pensam em audiências – sobretudo as comerciais – como os jornais em tiragens.

 

PS: Acha que o adepto português está mais apaixonado pelo jogo ou continua mais focado na cor clubística?

CD: A maioria vê pelo prisma do clube, o que é inevitável. Uma minoria, que espero decrescente, vê pelo prisma da clubite doentia. Uma outra minoria, que me parece crescente, já quer saber mais do jogo propriamente dito e não de polémicas e outros assuntos laterais.

 

PS: Algumas das críticas que se ouvem em Portugal é a de que muitos treinadores armam as suas equipas para não sofrer em detrimento de ir à procura do golo. Estamos conscientes das dificuldades económicas que assolam o país. Contudo, acha que seria possível uma abordagem diferente? Vimos por exemplo, o Vitória de Setúbal acabar a época em dificuldades, mas nunca abdicou de tentar ter a bola e de procurar marcar mais do que o adversário. O clube garantiu o seu objectivo e, mesmo assim, o treinador saiu.

CD: Parece-me que sim, que é possível reclamar mais qualidade de jogo e mais futebol de iniciativa, mesmo com as limitações de qualidade (por razões orçamentais) de muitas equipas. Agora, nem sempre quem ataca mais joga melhor, e o Vitória de Setúbal, por exemplo, não foi uma equipa equilibrada, sobretudo na segunda metade da época.

 

PS: Vivemos numa sociedade cada vez mais acomodada e virada para as novas tecnologias. Os mais novos deixaram de jogar futebol na rua, passando a jogar nas consolas ou no computador. E como consequência disso, vêem-se cada vez mais jogadores com dificuldades em situações de 1×1 e capacidade para pensar fora da caixa, em Portugal. Como é que considera que podemos alterar esta mentalidade e se o futebol de rua ainda sobrevive nos dias de hoje?

CD: Precisamos de incentivar a criatividade, a habilidade no sentido mais básico, o improviso, a transgressão. Massimiliano Allegri sugere que as próprias escolas de futebol recriem as dificuldades dos pátios e ruelas. Subscrevo.

 

PS: Quais os jogadores que idolatra no momento? E desde sempre?

CD: Idolatrar é talvez demasiado, mas delicio-me com um remate cruzado do CR7, um livre afinado ao ângulo pelo Messi, um drible do Douglas Costa ou do Robben, o toque de bola do Modric e do Thiago Alcântara, e ainda do Pirlo, a alma do Buffon, as correrias do Agüero com bola e aos esses, a elegância do Hummels, a verticalidade do Suárez, a liberdade trensgressora do Neymar, a brutal inteligência do Iniesta. E tantos mais. Do passado, os meus são: Maradona e Zico, Van Basten e Ronaldo fenómeno, Hagi e Laudrup, Mancini e Bergkamp, Baresi e Maldini, Gullit e Futre, Chalana e Madjer, Dasaev e Schmeichel, Preud´Homme e Vítor Baía, Rui Costa, Figo e João Pinto. E mais umas dezenas.

 

PS: Se fosse presidente do seu Paredes e pudesse criar um 11 e escolher um treinador para a treinar, quais seriam as suas escolhas?

CD: Treinador: Guardiola. Onze: Neuer, Lahm, Piqué, Hummels, Alaba; Bale, Modric, Iniesta e Neymar; Messi e Cristiano Ronaldo. Era muito ofensiva mas difícil de parar (risos).

 

PS: O Carlos é jornalista, analista e músico. Foi locutor e jogador de hóquei. No futebol é aquilo que chamamos de polivalente. Como é que se sentia dentro de campo no Paredes? Jogava em que posição? O que falhou no futebol? Como surgiu a oportunidade de seguir Sociologia?

CD: Joguei a ponta de lança e a médio ofensivo, gostava mais desta última posição, com mais bola no pé. Tinha habilidade mas comecei tarde e duvido que tivesse chegado muito longe. Mesmo assim era melhor no futebol que no hóquei. A Sociologia surgiu num contexto em que já estava a trabalhar, na Rádio Comercial, e em que já acreditava que ia ser jornalista. A opção teve a ver também com as áreas do saber que abarcava.

 

PS: Gostaria de tirar o curso de treinador?

CD: Gostaria de ter tirado, há uns anos. Não aconteceu, já não deverá acontecer. Mas era mais pelo lado lúdico, do gozo, não para mudar de vida.

 

Jogo Jogado

PS: Por onde é que acha que o jogo pode evoluir mais, em termos de modelos de jogo? Ou acha que estará tudo inventado?

CD: Acredito que pode, e está a evoluir, na concretização efetiva de um modelo bem treinado – que quase todos referem mas nem tantos conseguem – e no aproveitamento da estratégia já não num contexto de improviso criativo do treinador mas assente nesse modelo e no que se pode explorar em cada rival.

 

PS: Quais são as equipas que mais o fascinam no futebol actual?

CD: O Bayern de Munique e o Barcelona, mas na última época gostei muito também do Borussia de Dortmund, do Nápoles, do Tottenham e da Fiorentina.

 

PS: Quais são os treinadores portugueses ou estrangeiros que merecem a sua atenção devido às ideias de qualidade que vêm mostrando?

CD: São muitos, e temo esquecer algum entre os portugueses. Vocês sabem de quem estou a falar. Dos estrangeiros, sigo com atenção, até pelo que disse antes, até onde podem chegar, Tuchel, Pocchetino, Sarri e também Sampaoli.

 

PS: Pivô defensivo ou trinco? Posse ou transições? Marcação à zona ou homem-a- homem? Extremos velozes e irreverentes no 1×1 ou médios centro cerebrais e com elevada capacidade de passe e visão de jogo?

CD: Pivô. Posse com transições de qualidade. Zona, com excepções possíveis na bola parada. Extremos velozes e médios cerebrais.

 

Fora de Jogo

PS: Sentiu necessidade de transpor para papel as suas ideias e memórias sobre o jogo jogado. Donde surgiu a ideia de escrever o livro? Pode levantar um pouco o véu sobre o seu conteúdo? Há planos para mais algum no futuro?

CD: Não tenho ainda qualquer outro projecto. Estou muito feliz com o feed-back até agora do “Futebol a Sério” e a pensar apenas em acrescentar-lhe um ou outro pormenor em futuras edições.

 

PS: A música também é uma das suas paixões, tal como o futebol. Como é que criou a banda e deu voz à Tertúlia dos 40?

CD: A “Tertúlia dos 40” segue o seu caminho. É um hóbi que me faz bem, que partilho com pessoas de quem gosto muito e que diverte muito as pessoas que vão ver.

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