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[:pt]Uma época ao comando do Real Bétis foi o bastante para Quique Setién renovar o ambiente do clube. Depois de temporadas intermitentes na Liga Espanhola, o emblema sevilhano transparece saúde a todos os níveis. O técnico espanhol trouxe a sua ideia baseada no jogo de posição de Las Palmas e implantou-a em Sevilha, levando ao aumento da crença dos “aficionados” e demais simpatizantes do Real Bétis, que viram o clube terminar a temporada passada no sexto lugar, garantindo o acesso às competições europeias.

A proposta de jogo atrativa de Quique Setién deu frutos na temporada passada e o clube parece ter dado um passo em frente no seu reconhecimento perante futebolistas que, há um ano atrás, não se esperaria ver pisar o relvado do Benito Villamarín. William Carvalho e Lo Celso são os melhores exemplos disso mesmo.

Assim sendo, a proposta de jogo para o Bétis de 2017/18 assentava num modelo de jogo de posse, mas com riscos. Ou seja, o técnico espanhol não pretendia que a sua equipa mantivesse uma posse de bola inofensiva. Cada passe tem de ter um objetivo bem vincado. A equipa deverá ter paciência na construção (mesmo com equipas com maior qualidade individual) até que haja oportunidade para, com um passe – que pode ser longo –, “ferir” o adversário.

Inspirado pela escola de Cruyff, Setién assume Aragonés como a sua maior influência. Não é adepto do resultadismo, procura o futebol de ataque, fazendo perceber o porquê das suas equipas marcarem muitos golos, mas também verem as suas redes balancearem por diversas vezes.

A ocupação dos espaços foi a chave da proposta de jogo do Bétis 2017/18. Se cada jogador souber quais os terrenos que deve pisar a recuperação de bola será facilitada. Por outro lado, a circulação de bola e os passes constantes têm como objetivo arrastar os adversários das suas posições, criando espaços que, de outra forma, não existiriam. A equipa tem, assim, o controlo de jogo, como assumiu há dias Marc Bartra ao “El País”. Segundo as palavras do central espanhol, ao Bétis não interessa ganhar de qualquer maneira, “há que ganhar jogando bem”.

Setién manteve o mesmo estilo de jogo durante toda a época, com variações face a características dos adversários. O esquema tático, porém, nem sempre foi o mesmo. Mas comecemos pelas primeiras jornadas.

A equipa iniciou a temporada transata com o 4-3-3. Adán melhorou o jogo de pés com Setién e era em si que começava todo o processo ofensivo dos sevilhanos. O guardião espanhol optava por colocar a bola num dos centrais ou em Javi Garcia, elemento fundamental na primeira fase de construção. Isto porque, aquando do momento ofensivo, o antigo médio do Benfica recuava no terreno para se posicionar no meio dos dois centrais, pelo que o Bétis iniciava a “saída a 3” (função semelhante à que Fejsa tem, atualmente, no Benfica, em momento de organização ofensiva). Isto possibilitava, também, que os laterais se projetassem no terreno, de modo a criar situações de superioridade numérica no meio campo adversário. Em momento defensivo, Javi Garcia funcionava como pivô, entre a defesa e os homens do meio campo.

Fabián (ou, por vezes, Guardado) recuava para a posição que “no papel” era de Javi Garcia, para organizar jogo, e face ao adiantamento dos laterais, os extremos Joaquín e Tello procuravam zonas interiores. Muitas vezes, os homens mais adiantados do Bétis ficavam em superioridade numérica face à defesa contrária, uma vez que o rival tinha sido atraído para pressionar os defesas e deixavam espaço nas costas dos médios, que a equipa de Setién procurava explorar. Romper as linhas de pressão e aproveitar o espaço deixado pelo adversário que foi atraído para fazer a pressão em zonas mais adiantadas era a base do momento ofensivo.

Se ofensivamente as coisas iam correndo bem aos sevilhanos, defensivamente o cenário era outro. A equipa ficava muito exposta às transições dos adversários e acabava por ser batida várias vezes nesse momento. Foi aí que Setién interveio no esquema tático da equipa. Marc Bartra chegou do Dortmund em janeiro e o técnico espanhol colocou a equipa a jogar com um sistema de 3 centrais (Amat, Bartra e Mendi). A equipa ganhava consistência no momento de transição defensiva e, ao mesmo tempo, os laterais Barragan e Junior (que substituiu Durmisi a meio da temporada) podiam procurar zonas ainda mais avançadas do terreno.

Javi Garcia passou a manter-se na “posição 6” e não baixava para iniciar a construção, sendo Bartra a assumir, agora, essa tarefa. Fabian manteve-se como responsável pela construção de jogo e afirmou-se como o líder do meio campo. Aliás, o seu perfil de jogador encaixava “que nem uma luva” na ideia de Setién e levou à transferência do médio para Nápoles neste mercado de transferências. O seu conhecimento tático de jogo, aliado à capacidade de passe e transporte foram as chaves para muito do que foi o sucesso do Bétis 2017/18. A entrada de Boudebouz na equipa veio, também, trazer mais “magia” e virtuosismo ao futebol dos andaluzes no último terço.

Voltando ao início, o estilo de jogo que o Bétis apresentou na temporada passada não passava pela construção lenta, mas sim por uma posse de bola objetiva. A profundidade era também uma das virtudes da equipa, que procurava – muitas vezes com passes longos, mas acertados – explorar o espaço livre nas costas da defesa e colocar os avançados em situações favoráveis de um para um. Ao contrário do que muitas vezes se apregoa, o Bétis mantinha preferência por explorar as laterais, embora não descurasse o miolo do terreno.

O momento defensivo baseia-se na pressão alta, de modo a recuperar a bola em zonas adiantadas do terreno. A equipa busca travar o contra ataque ainda no meio campo do adversário, de modo a que, assim que recupere a bola, possa partir para um ataque rápido e com perigo.

Ainda com poucos jogos disputados nesta temporada, é possível denotar que as bases do modelo da temporada passada foram transportadas para esta época. Como referimos aqui, o Bétis promete ser uma das equipas a seguir esta temporada. A equipa continua a preferir o jogo de posse e construção a partir de trás, embora os automatismos não estejam, ainda, assimilados na perfeição, visto que em seis jogos só venceu um. Curiosamente, diante do maior rival, o Sevilha, na 3ª jornada. Deixamos aqui um vídeo sobre os momentos de organização ofensiva frente ao Sevilha de Pablo Machín.

A grande diferença do Real Bétis de 2017/18 para 2018/19 serão, sobretudo, os craques com que a equipa pode agora contar. William, Lo Celso, Canales e Inui serão alguns dos elementos cruciais para que a formação da Andaluzia mantenha o bom desempenho na liga espanhola e nas competições europeias. Mas, tal como sucedeu na temporada passada, pode levar tempo até aos novos elementos correspondam ao que lhes é pedido. Contudo, segundo Setién, o próprio prefere “criar algo, ainda que custe ao início, mas que dure e tenha em conta o futuro”. E com esta proposta de jogo e estes artistas, o futuro do Bétis só pode ser risonho.[:]



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