Num onze sem grandes surpresas de parte a parte, FC Porto e Benfica, entraram em campo fiéis à sua identidade (em termos de sistema de jogo) sem, obviamente, descurarem dentro dessas opções iniciais, a dimensão estratégica do desafio.
Dentro desse plano estratégico, de cedo se percebeu que o Porto ia em busca daquilo que fez no jogo da primeira volta na Luz (vitória por 2-0).
Sem bola, a exercer uma forte pressão em bloco alto a tentar condicionar desde logo a construção do Benfica e no plano ofensivo em busca de tirar partido do seu corredor direito, com as diagonais de dentro para fora de Marega (atacar espaço entre Ferro e Grimaldo), ao passo que Corona era garantia de profundidade e criação de desequilíbrios nesse mesmo corredor.
Do lado dos dragões, a inclusão de Marega fazia, então, antever que o Porto ia em busca de explorar o lado esquerdo da última linha do Benfica (ataques à profundidade e, em particular, ao espaço entre Ferro e Grimaldo: 3º golo do FC Porto).
Com Otávio a alinhar mais por dentro a funcionar (essencialmente) como 3º médio no corredor central do que propriamente como um ala puro (muita das vezes para atrair Grimaldo à pressão), permitia que Corona se pudesse projetar e dar profundidade ao corredor direito (aproveitando também ele os espaços nas costas de Grimaldo, ou entre este e Ferro (sentiu muitas dificuldades quando fixado e confrontado por Marega) dos azuis e brancos.
No corredor oposto, Luis Díaz era garantia de fantasia, velocidade e de criação de desequilíbrios (constantes movimentos de fora para dentro com e sem bola).

Bruno Lage, optou por colocar Rafa no corredor esquerdo no lugar de Cervi.
O técnico encarnado procurava dar mais consistência ao corredor central com Weigl + Taarabt + Chiquinho (mais recuado).
Mas foi fundamentalmente pelos corredores laterais que, em termos defensivos, a equipa encarnada sentiu, praticamente em grande parte do jogo, insuficiência para estancar as investidas, em particular, de Corona.
Rafa (menos agressivo defensivamente do que Cervi), sentiu sempre muitas dificuldades (“agredido” muitas vezes com situações de 1×1) quer para travar as investidas do mexicano, quer para auxiliar Grimaldo e fechar esse mesmo corredor (esquerdo do Benfica) de uma forma mais efetiva.

Num bloco médio-baixo, a primeira fase de pressão (de identidade-padrão alta) do Benfica era praticamente inexistente.
Com Chiquinho algo recuado e posicionado por dentro (corredor central – a funcionar mais como 3º médio), esse mesmo momento de pressão inicial (fase de construção do Porto) ficava somente entregue a Vinícius.
Nessa incapacidade (estratégica ou não) de pressionar de forma mais alta e agressiva a primeira fase de construção do Porto, o Benfica ia permitindo que o portador tivesse sempre muito espaço e tempo para decidir onde colocar a bola, optando estes, na maior parte dos casos, pela profundidade em bolas mais longas em diagonal (variações do centro do jogo) para os corredores laterais (lançamento de linha lateral: no seguimento de uma dessas variações longas de corredor vai dar origem ao 1º golo do FC Porto).

Em zonas mais baixas, as águias, mostraram sempre algumas dificuldades para controlar o espaço à entrada da área, não só no seguimento da defesa de cruzamentos, como também na defesa dos lançamentos ofensivos por parte do Porto, nomeadamente no controlo das segundas bolas permitindo muitos remates exteriores (jogo em que o Benfica sofreu mais remates nesta edição da Liga).

Numa pressão em bloco alto, o Porto procurou condicionar deste logo a construção (a 3 – Weigl entre Rúben Dias e Ferro) do Benfica.


Embora o Porto fechasse/condicionasse bem o corredor central e as possíveis/espectáveis ligações interiores do Benfica, os encarnados usavam e abusavam dessa forma de ligação entre a fase de construção e a fase de criação (procura de jogar entre-linhas: espaço que o Porto encurtou).
Ferro e Weigl, eram aqueles que mais vezes tentavam ligar por dentro, na maior parte dos casos, sem grande sucesso.
Com o jogo interior bloqueado por parte dos dragões: Pizzi e Rafa (mais perto de Vinícius) com Chiquinho (mais baixo na construção), estes, não conseguiam ser solução para a fluição do jogo interior do Benfica (pressão em cima por parte dos elementos do meio campo azul e branco: Uribe + Sérgio Oliveira).
Taarabt era (a espaços) aquele que procurava não só ligar (pelo menos tentar ligar) por dentro, como também vir pegar no jogo e na construção desse mesmo jogo em zonas mais baixas – perto da já referida construção a 3 (Rúben Dias + Weigl + Ferro).
Na sequência desse jogo interior falhado, o Benfica permitiu várias saídas para transição ofensiva ao Porto.

Ora, com o jogo interior (espaço entre-linhas) fechado pelo Porto (sobretudo na 1ª parte), o Benfica teria de encontrar outros caminhos (explorar mais vezes os corredores laterais – parecia ser a melhor solução a essa altura) para chegar a situações de finalização.
Numa dessas situações de jogo exterior, a equipa da Luz acaba por chegar ao empate por Vinícius.
Numa primeira fase, há uma atração ao corredor esquerdo libertando posteriormente o corredor direito (variação longa de Pizzi), onde com espaço, surgem André Almeida e Rafa, com este último a tirar um bom cruzamento para cabeceamento de Chiquinho.
Marchesín acaba por defender para a frente. Vinícius, oportuno, só teve que empurrar.

Na segunda parte o Benfica, entrou disposto a rapidamente encurtar o marcador que se verificava ao intervalo (3-1).
Com uma circulação de bola mais rápida e fluída (variações e circulação de bola de corredor a corredor: Chiquinho e Pizzi a procurarem ligar mais baixos sob o corredor direito e não tanto pelo centro) e com o jogo interior a entrar de forma mais visível, comparativamente com a primeira parte, o Benfica chegou então ao 3-2 e reentrou na discussão do resultado.
Numa dessas primeiras circulações de corredor a corredor, o Benfica consegue encontrar espaço para a progressão e posterior passe de Rúben Dias (sob o corredor direito) para o espaço entre Marcano e Pepe (Chiquinho já havia levado Marcado no 1º golo do Benfica), atacado por uma diagonal interior de Rafa.
Rafa recebe, segura e deixa em Vinícius que com um remate muito bem colocado bate Marchesín pela segunda vez.

Maioritariamente a procurar jogar por dentro para depois libertar por fora (várias situações de cruzamento na 2ª parte para culminar ações em organização ofensiva), o Benfica foi tentado chegar ao golo do empate.
À direita, com associações curtas e apoiadas entre Pizzi + Chiquinho + André Almeida, à esquerda a partir de Grimaldo com variações (mais longas) do centro do jogo.
Sem bola, um bloco mais alto e pressionante, com Chiquinho mais perto de Vinícius na primeira fase de pressão.
Numa fase final já com Seferovic (mais solicitações em profundidade) e Dyego Souza em campo, os encarnados (numa espécie de 1x3x4x3) optaram de forma mais acentuada pela largura dos corredores com ações de cruzamento para a área e em alguns momentos por um estilo de jogo mais direto, algo que não surtiu efeitos práticos.

O Porto ia procurando quebrar o ritmo do jogo e aproveitando os desequilíbrios do Benfica para, particularmente através de transições ofensivas, chegar a zonas de finalização.
As alterações efetuadas na segunda metade por parte do Porto, vão de encontro ao tal querer controlar os ritmos do jogo e ao mesmo tempo sem querer proceder a alterações capazes de criar grandes desequilíbrios na sua estrutura.
À exceção da entrada de Mbemba (lesão de Pepe – 70’), as duas últimas alterações foram já efetuadas nos últimos 10 minutos: entradas de Manafá (81’) e Vítor Ferreira (85’) para os lugares de Marega (81’) e Otávio (85’), respetivamente.
Com a entrada de Manafá, para o corredor direito, Sérgio Conceição, procurou ter mais um elemento de características defensivas de forma a ajudar no controlo da largura e dos consequentes cruzamentos que o Benfica procurou na parte final.
Numa análise geral ao clássico, o FC Porto acaba por ser um justo vencedor. Foi, no plano estratégico a equipa que melhor tirou proveito das debilidades do adversário e aquela que melhor controlou as forças do oponente.
Ainda que com uma vantagem de 4 pontos do Benfica sobre o FC Porto, que tem vantagem no confronto direto com os encarnados, o campeonato fica, claramente, relançado e em aberto.
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