A cara que o FC Porto apresentou nas primeiras semanas de 2019/2020 não difere muito daquilo que se viu nas duas últimas temporadas com Sérgio Conceição ao leme da equipa. Um modelo assente no 442 como sistema táctico preferencial (mas com facilidade de transformação em 433) e que se baseia numa ideia de jogo ofensivo rápido, vertical e profundo, com particular relevância para a dimensão física e para o triunfo nos duelos travados a meio-campo.
Por princípio, a criatividade continua a depender mais dos (falsos) extremos que têm liberdade para procurar movimentos interiores, abrindo corredor total aos laterais. A dupla de médios assume-se mais combativa do que inventiva, responsabilizando-se pelas acções de pressing, recuperação e lançamento para os elementos mais adiantados. Na frente, um dos avançados serve como homem mais de referência e de finalização, enquanto o outro procura movimentos de ruptura e o espaço nas costas da defensiva contrária (papel habitualmente desempenhado pelo ausente Marega, e que, na sua ausência, abriu possibilidade às experimentações de Corona, Fábio Silva e Otávio nesse espaço).
Para além dos princípios gerais e dos padrões que resultam de duas temporadas de convivência, há comportamentos e destaques que merecem referência agora que as competições a doer – designadamente a fase de acesso à Champions – estão à porta.
O pressing e a desmultiplicação em 4132
O FC Porto continua a ser uma equipa muito activa no momento defensivo, não facilitando a progressão ao adversário. Isso era já uma marca da equipa na temporada passada ao nível do momento da reacção à perda (transição defensiva), com unidades próximas da bola a, de imediato, encurtar o espaço, e adquire particular relevância como um dos princípios do seu jogo no momento defensivo estrutural. Assim, o 442 facilmente se transforma com o adiantamento de um dos médios centrais, formando um 4132, com a coerente subida da linha mais defensiva (pisando o eixo divisório do campo), mantendo-se muito próxima do sector intermédio e assim procurando impedir o adversário de explorar espaços nas costas dos médios.
Destaque aqui para o posicionamento adoptado por Danilo, que, neste momento particular do jogo, assume terrenos adiantados face ao médio que o acompanha (Sérgio Oliveira ou Bruno Costa, ficando estes mais na cobertura), buscando-se explorar a agressividade e capacidade física do capitão dos dragões.
Por outro lado, neste ponto, a maior fragilidade respeita ao espaço que os extremos devem ocupar e à forma como devem reagir consoante o posicionamento da bola. Tendo em conta os poucos elementos no corredor central, caso a bola entre nas costas dos avançados e na lateralidade de Danilo, somando à forma como os laterais se mantêm bastante abertos nesse momento, os espaços gerados pelos adversários poderão causar dissabores aos portistas.
Desde trás, um problema central
Um dos comportamentos mais reiterados dos dragões continua a ser o passe longo nas saídas a partir de trás. Isso resulta, por um lado, da forma como os médios não se disponibilizam para pegar no jogo (Danilo, Sérgio Oliveira ou Loum não têm o perfil de médio construtor, algo que foi atenuado, por exemplo, com a boa entrada em jogo de Bruno Costa diante do Bétis), e, por outro lado, do desconforto que os próprios centrais sentem quando se encontram minimamente pressionados, não optando pela provocação do adversário (com o consequente arrastamento do mesmo, e espaços gerados a partir daí no bloco), antes desfazendo-se da bola de forma não particularmente criteriosa.
Há características que se casam e o passe longo não será tanto um problema quanto seja a tendência fazê-lo na busca de um elemento como Marega no eixo ofensivo (pela sua combatividade e capacidade de ir buscar a bola nas costas da defesa) ou provocando um duelo de Soares e/ou Zé Luís face a um opositor (igualdade numérica) ou ainda de forma diagonal para aproveitar o espaço existente no lado contrário ao de onde a bola partiu (pela esquerda Díaz e Nakajima podem emergir a partir daí).
Lacunas defensivas nas laterais
Um dos principais problemas revelados pelos dragões ao longo da pré-época – e que poderá ter consequências sobretudo a nível internacional – foi o fraco desempenho defensivo dos seus laterais. Centrando o foco nos prováveis titulares de início de temporada, e sendo indiscutível a valia de Alex Telles em tudo o que seja serviço de área e a inteligência de Manafá nos movimentos interiores (ainda que revele, por vezes, alguma precipitação na decisão), do ponto de vista defensivo a fragilidade no 1×1 e a forma como se abriram espaços nos seus corredores foi notória e preocupante.
Uma realidade que se estendeu igualmente a Saravia (que, neste item, já tinha deixado notas negativas na Copa América) e a Tomás Esteves, um jovem lateral que com bola tem um potencial soberbo mas que, defensivamente, e de forma natural, tendo em conta os seus 17 anos, desprotege muito o espaço nas costas e permite folga ao adversário para atacar a baliza.
Romário Baró
A maior novidade da pré-época portista chamou-se Romário Baró. Foi titular nos três ensaios de maior nível de dificuldade, afirmando-se como unidade do corredor direito, na linha de quatro que preenche o meio-campo. Dos jovens que venceram a Youth League e que procuram agora um lugar no plantel principal, Baró parece ser aquele que está mais próximo de dar aquilo que Conceição pretende. A jogar a partir da faixa direita, demonstrou capacidade para arrancar em progressão junto à linha (acelera facilmente pós-drible) ou em movimentos interiores, ocupando o espaço central e assumindo-se como terceiro médio (tem capacidade para fazer diferença em espaços curtos e visão de jogo), na nuance que permite a transmutação do sistema do 442 para 433 (viu-se sobretudo na partida diante do Mónaco). Sem bola, encurtou rápido, reagindo de forma muito agressiva, dando a dimensão física e a capacidade de recuperação que o técnico portista pretende.
Fábio Silva
Teve muitos minutos ao longo da pré-época e a verdade é que fez por justificá-los. Jogou sobretudo como avançado descaído para a direita. Inteligente, criterioso, com faro pelo golo, combativo e com pormenores demonstrativos da sua enorme valia técnica. Aqui e ali ainda é surpreendido em termos de velocidade de execução (os adversários procuraram-se impor-se pelo físico e ultrapassando-o pelas costas) mas tem pormenores ao nível de movimentação, entendimento de jogo e ligação com os companheiros que não enganam quanto ao seu potencial e ao que pode acrescentar (de diferente) à equipa. De momento, é possivelmente o melhor finalizador do FC Porto.
Zé Luís
Fez um golaço diante do Bétis mas destacou-se mais pelo sentido colectivo e utilidade das suas movimentações do que pelo killer instinct. Servindo como referência, demonstrou enormes condições para segurar e reter a bola (é fortíssimo na forma como utiliza o físico para protecção da posse), com destreza suficiente (com ambos os pés) para fazer a equipa jogar a partir daí, fazendo movimentos de recuo/apoio e lançando passes de ruptura (mais capaz do que qualquer outro dos elementos mais avançados do FC Porto). Mesmo não estando ainda totalmente dentro da dinâmica colectiva, tem condições técnicas que lhe permitem crescer dentro da equipa, e estabelecer-se como opção titular.
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