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‘El Loco’ Leeds United

O Leeds está de regresso à Premier League. Foram 16 longos e penosos anos para as gentes de Elland Road, demasiados.

Os mais velhos ainda se lembram de Mark Viduka, Lee Bowyer, Harry Kewel, Alan Smith ou Rio Ferdinand na Premier League. Mais, a equipa foi semi-finalista da Liga dos Campeões no início do século.

Infelizmente, problemas financeiros atiraram o clube para a League One (3.ª divisão). Problemas estes que não se apropriaram da mística nem dos adeptos. Valorosamente, estes continuaram a seguir os peacocks nos bons e nos maus momentos.

E num clube com tamanho peso histórico, só um louco o podia trazer de volta à ribalta.

Marcelo Bielsa foi contratado em 2018. Passou por França, Espanha e Itália depois de arrepiar caminho no seu país natal, a Argentina. Em Bilbao, onde se notabilizou ao serviço do Athletic, impressionou ao levar os bascos à final de uma Liga Europa.

Guardiola chegou a dizer que Bielsa sabia mais do Barcelona do que ele próprio, à margem de uma final da Copa do Rey entre as equipas de ambos. Mais recentemente, afirmou que é o treinador que mais respeita no futebol.

A proposta do Leeds chegou e o técnico agarrou a chance de treinar um clube inglês. Já no clube inglês, fica ligado a duas situações caricatas, que sustentam a sua alcunha. Depois de rebentar o escândalo ‘Spygate’, El Loco assumiu que observava os treinos dos adversários para melhor entender a forma como as equipas jogavam. Teve de pagar uma multa.

Ainda no mesmo ano, num jogo frente ao Aston Villa, os Peacocks aproveitaram a lesão de um jogador para marcar golo. Horrorizado com o que viu, Bielsa ordenou que a sua equipa deixasse o adversário marcar o golo do empate. Valeu-lhe o prémio fair-play da FIFA. O caso ganhou ainda maior expressão porque estava em jogo o apuramento direto para a Premier League: com o empate, o Leeds foi forçado a disputar os play-offs, acabando por não conseguir a promoção.

Um ano mais tarde, Bielsa voltou à carga. Subiu de divisão, mas desta feita como campeão.

E afinal… como joga este Leeds United de ‘El Loco’ Marcelo Bielsa?

Em linhas gerais

O Leeds joga num sistema híbrido que alterna entre o 4x1x4x1, o 4x4x2 ou o 4x2x3x1, consoante o momento do jogo. No sistema base de Bielsa são imprescindíveis os laterais Dallas e Ayling e o trinco Kalvin Phillips. As restantes posições do terreno estão reservadas, por norma, a Meislier na baliza, Cooper e Robin Koch no eixo da defesa, Klich no meio-campo, Hélder Costa e Jack Harrisson nas linhas, e Patrick Bamford na frente de ataque. Onde tem havido maior rotatividade é no apoio ao avançado, com Rodrigo e Tyler Roberts a dividirem minutos na posição.

A chegada de Raphinha para a extrema direita põe em causa a titularidade absoluta de Hélder Costa.

O modelo de Bielsa varia consoante o adversário. O treinador faz com que a sua equipa domine certos princípios base, mas metamorfoseia-a se sentir necessidade disso. Analisar o Leeds em dois jogos distintos pode ser um exercício fascinante, mas também muito confuso!

Momento Ofensivo

1.ª fase de Construção

  • Nesta fase, Bielsa monta a equipa a sair com quatro jogadores, sendo que o trinco apoia a primeira fase de construção ao funcionar como quinto jogador. O médio centro e os avançados projetam na frente, dando profundidade;
  • Kalvin Phillips normalmente aproxima dos centrais. Não na linha deles, mas ao formar um losango com os dois e também com o guarda-redes;
  • O Leeds utiliza os três corredores de forma frequente ainda no primeiro terço do campo, para encontrar a melhor forma de atacar o meio-campo adversário. Se necessário, recorre a variações diretas do lateral direito para o esquerdo;
  • Quando o adversário pressiona alto, o médio defensivo (Phillips) não aproxima dos centrais, colocando-se atrás do(s) jogador(es) que pressiona(m) em cima da área;
  • O objetivo passa por sair com a bola ‘limpa’, através de passes curtos, alta intensidade no passe e nas movimentações. Caso o adversário limite a ação com uma pressão bem conseguida, a bola longa é uma solução de recurso que Bielsa não impede os defesas de usarem;
  • Os extremos por vezes baixam para criar superioridade, frente a equipas de maior nomeada, como o Liverpool e o Manchester City, por exemplo.

Criação/Finalização

  • O ponta de lança Patrick Bamford desempenha um papel decisivo na forma como o Leeds ataca a baliza contrária. O avançado não recua para pedir bola no pé e o seu objetivo é esticar a equipa em todos os momentos ao atacar a profundidade. Recebe sempre com os apoios orientados para a baliza adversária;
  • Outra das características do inglês é alhear-se da construção de jogo. Para isso, procura sempre o corredor contrário ao da bola, e no último terço, usa essa movimentação para atacar a zona do segundo poste. Este movimento, bem como a qualidade de cruzamento de Harrison, foi determinante na vitória frente ao Sheffield com o seu cabeceamento certeiro ao cair do pano;
  • Os extremos por norma colam à linha. No miolo há uma alteração posicional substancial caso esteja Tyler Roberts (aproxima mais aos médios) ou Rodrigo (que funciona como falso nove) em campo. O espanhol, de natureza mais ofensiva, vem buscar jogo mas tenta aproximar mais a Bamford no último terço.

Momento Defensivo

Pressão

  • Pressão intensa ao portador da bola em todo o campo;
  • Boa perceção de indicadores como o adversário estar de costas ou a bola estar no ar para definir o momento da pressão;
  • Caso haja um defesa mais frágil na circulação, esse elemento não é pressionado. São-lhe apenas tapadas as linhas de passe para forçar o erro. Só se cai na pressão desse jogador assim que os seus colegas estiverem devidamente marcados;
  • Rodrigo/Roberts e Bamford pressionam em conjunto na frente. Um cai no portador da bola, o outro fecha o trinco impedindo construção com passe vertical. O médio adversário que recua para vir buscar jogo tem de estar obrigatoriamente tapado por um dos dois homens mais adiantados.

Defesa da baliza

  • No primeiro terço defensivo está bem definida a presença dos jogadores em apenas dois corredores, com uma linha de quatro defesas na proteção à baliza, na maior parte das vezes. (Podem ser cinco jogadores);
  • Kalvin Phillips emparelha com outro médio (Klich habitualmente) à frente da linha de quatro homens, caso a equipa defenda em bloco baixo;
  • Frente ao City também se viu a defesa composta por cinco unidades, sendo que Ayling fechou no corredor central e coube a Hélder Costa a proteção do corredor;
  • Frente a equipas inferiores no plano teórico (caso se possam considerar assim o Sheffield e o Fulham), os Peacocks passam a defender em 4x1x3x2 com Kalvin Phillips no espaço entre a linha média e a linha defensiva, para evitar a apropriação dessa zona por parte de adversários contrários e permitir que o momento defensivo não aconteça tao perto da sua baliza.

Atualmente, o Leeds é das equipas mais entusiasmantes para os apreciadores de futebol ofensivo. Já proporcionou duas batalhas épicas que terminaram 4-3 (a vitória ao Fulham) e a derrota com o Liverpool. Está a fazer um campeonato muito seguro e dos emblemas que subiram, é o que aponta a voos mais altos. Com a qualidade dos seus jogadores, e principalmente do seu treinador, não será uma surpresa total caso o emblema atinja lugares de acesso a provas europeias, por exemplo.

Para já o objetivo é claro, garantir a manutenção o mais rápido possível. Com a qualidade de futebol apresentado, não será tarefa complicada.



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