O desporto Português e nomeadamente o futebol, têm vivido, sem qualquer dúvida, um dos seus períodos mais férteis em acontecimentos positivos e de grande importância para a nossa nação. Não menos relevante, que a conquista pela equipa sénior masculina do Euro 2016, realizado em França, está este fantástico apuramento das nossa meninas para o UEFA Women’s EURO 2017 a realizar na Holanda.
Se estar presente já é só por si um feito histórico, já que Portugal é a seleção com menor ranking FIFA, o que dizer então da primeira vitória de sempre numa fase final de uma grande competição? Simplesmente fantástico e maravilhoso!
Francisco Neto, para este segundo jogo de qualificação, coloca a equipa a jogar com uma organização estrutural de 1-4-4-2 losango, como mostra a figura 1.
Com esta disposição das jogadoras em campo, o objetivo era claro: manter superioridade numérica e posicional no corredor central; impedir o jogo interior e “levar” a organização ofensiva da Escócia para os corredores.
Uma das desvantagens que são observáveis neste tipo de estrutura, é a inferioridade e os espaços livres que a equipa permite do lado contrário da bola. Para que estas ligações tenham sucesso é imperioso que assim que a equipa se desloque para o lado da bola para pressionar o seu portador, estas acções defensivas devem ser feitas de forma a impedir que esta circule rapidamente para o corredor contrário, com o objectivo de limitar os espaços livres que se podem observar na figura 1.1.
Como mostra a figura 2 o jogo defensivo de Portugal passava por condicionar o jogo adversário para os corredores e aí nesses momentos, as ligações que se estabeleciam entre as jogadoras foram no sentido de criar superioridade numérica junto da bola, retirar tempo e espaço de jogo e como consequência recuperar a posse.
O método defensivo usado pelo Treinador Francisco Neto, é a zona pressionante, embora em algumas situações que iremos expor, as nossas jogadoras ainda correm por onde o adversário quer, ou seja, os meios usados convertem o marcador em prisioneiro. “Tu segues-me, no entanto vais para onde eu quero”.
Na figura 3 observamos que a opção passou por um bloco médio\baixo em que a referência para marcação são os espaços e por consequência a posição da bola. Assim que a bola entrasse nos corredores toda a equipa desloca-se para essa zona, procurando criar aí, uma superioridade numérica e posicional, que lhe permitisse, por um lado recuperar a posse, ou que a opção fosse o passe longo, como aconteceu em várias ocasiões do jogo. Como princípio temos a cobertura da central à lateral direito, a central do lado contrário faz a respectiva vigilância e controla o espaço na profundidade. A lateral do lado contrário fecha o espaço interior, mantendo as distâncias entre as 4 jogadoras equilibradas e com pouco espaço de penetração.
Relativamente ao posicionamento do losango, gostaríamos de destacar a dificuldade que esta estrutura representa para a Tatiana Pinto, controlar o espaço central, já que na falta de um extremo que saia na pressão ao lateral contrário, é a médio interior do lado da bola que se desloca para a linha, forçando ao movimento da Tatiana para zonas muito exteriores. O que acontecia com este movimento era a libertação de muito espaço entre os sectores médio e defensivo, como se pode observar pela figura 3. Esse espaço livre poderia e deveria, na nossa opinião, ser ocupado pela médio interior do lado contrário da bola, neste caso, a Vanessa Malho, como demonstramos na figura 3, em que um deslocamento de apenas alguns metros, fazia toda a diferença num jogo tão rápido.
Um último aspecto de gostaríamos de salientar tem a ver com o posicionamento das duas avançadas de Portugal. Podemos observar, mais uma vez com recurso à figura 3, que a avançada do lado da bola, tinha como missão, auxiliar a médio interior quando esta saísse na pressão ao lateral, procurando criar situações de 2×1, enquanto que a outra avançada, posicionava-se na diagonal longa, preparada para a transição ofensiva.
Na figura 4 avançamos com um possível posicionamento do losango Português, com o objectivo de evitar o espaço livre entre linhas, que se pode observar na imagem . Outra opção passaria pela reajustamento da linha de 4, com a diminuição da distância entre as centrais e a Tatiana Pinto, ou seja, estarem 5 metros mais subidas no terreno de jogo.
A saída de bola pelas centrais não era pressionada, no entanto quando esta entrava na pivôt da equipa Escocesa, era Cláudia Neto que saía para condicionar, com as duas avançadas relativamente abertas para poderem ajudar na pressão sobre os corredores. O movimento de Cláudia Neto, não era efectuado no sentido de roubar, mas sim, para impedir o passe interior e levar o jogo adversário para os corredores. Os objectivos foram conseguidos, já que a equipa da Escócia não conseguia entrar por dentro, no entanto, verificamos que com a subida de Cláudia Neto, o espaço livre que surgia entre ela e as restantes jogadoras do meio campo foi demasiado. Contra equipas de maior valia técnica poderá ser um problema difícil de resolver.
Um dos maiores problemas defensivos da equipa das Quinas, é a defesa do corredor central quando existe a possibilidade de cruzamento pelas adversárias ou quando a bola, estando descoberta, permitimos que esta entre na profundidade. Foi assim que a Espanha nos ganhou com dois golos em que a bola entra no corredor central com evidentes deficiências na marcação dos espaços mais importantes. Parte desses problemas acontecem quer pelas marcações individuais quer pela atracção que a bola exerce nas jogadoras.
Nas imagens seguintes damos a ver ao leitor um dos momentos defensivos mais errados da nossa selecção, ou seja o posicionamento de Sílvia Rebelo no momento em que a bola se encontra sobre o corredor e numa posição de cruzamento. Por estratétia do treinador ou por decisão da atleta, o que as imagens mostram são um posicionamento, na nossa opinião errado, nas situações de bola sobre o corredor. Entendemos que os laterais devem ser capazes de resolver situações de 1×1, embora sabemos que é impossível evitar todos os cruzamentos. Nas situações onde o cruzamento não é evitado, temos que assegurar que a zona onde a bola vai cair, é preenchida pelas restantes jogadoras do sector defensivo, por forma a criar superioridade numérica. O que observamos por várias ocasiões é o oposto ao que acabamos de descrever, ou seja, a central de Portugal desloca-se para a zona da bola, não assegurando a superioridade numérica no corredor central.
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