O triunfo da equipa do Red Bull Salzburgo na UEFA Youth League 2016/17 confirma o bom trabalho que tem sido desenvolvido nas margens do Rio Salzach. A sapiência do corpo técnico do clube, a qualidade das suas infraestruturas e a perspicácia dos responsáveis pelo departamento de prospeção catapultaram a equipa austríaca de sub-19 para a vitória na “Liga dos Campeões do futuro”. Barcelona, Benfica e Real Madrid foram os outros três participantes da “final-four” disputada em Colovray, na Suíça.
A primeira meia-final ditou um interessante duelo entre Barcelona e Red Bull Salzburgo. O triunfo austríaco (1-2) não é o do romantismo, vinculando-se a um estilo mais pragmático, marcadamente germânico. Um dia, Johan Cruyff disse que “o futebol se joga com a cabeça e as pernas estão lá para ajudar”. Os anos passaram e a premissa passou a verdade incontestável no meio futebolístico. Barcelona e Red Bull Salzburgo, em momentos de jogo distintos, demonstraram o quão importante é estar perfeitamente identificado com a abordagem que se pretende adotar para encarar o desafio.
Equipa com princípios bem definidos em posse e dinâmicas interessantes num sistema próximo do 1x3x5x2, o Barcelona encontrou um adversário exímio sem bola, como é apanágio nas equipas da Red Bull, que apresentam comportamentos padronizados a esse nível por influência de Ralf Rangnick, o “pai” do “Gegenpressing”. A predisposição da equipa na reação à perda de bola, a pressão alta e a criação de centros de pressão pelos flancos são características desta equipa sub-19 do Red Bull Salzburgo, capaz de nos transportar para a altura em que Roger Schmidt orientava o plantel principal e empolgava a Europa. Marco Rose, técnico dos austríacos, fez-se ouvir durante os 90 minutos proibindo os seus atletas de renunciarem ao esforço, sacrificando-os em nome de uma forte identidade do ponto de vista coletivo. Para a maturidade desta equipa contribui o facto de alguns elementos disputarem a 2ª divisão austríaca ao serviço do Liefering, equipa-satélite do Red Bull Salzburgo.
O “gegenpressing” pressupõe, em traços muito gerais, disponibilidade física, intensidade de jogo, bom posicionamento, basculação criteriosa, agressividade na abordagem aos lances e capacidade de controlo de profundidade/largura. Em termos físicos, o Red Bull Salzburgo foi a melhor equipa desta “final-four”, muito forte nas divididas a meio-campo, superior no jogo aéreo e mais disponível que os adversários, tal como se verificou com o avançar do relógio tanto frente ao Barça como ao Benfica. Frente à equipa “Culé”, depois do empate por Hannes Wolf ao minuto 62 fruto de uma “oferta” do guarda-redes Puig, o Red Bull Salzburgo cresceu no jogo, coincidindo com uma quebra do adversário tanto do ponto de vista físico como psicológico. A cambalhota no marcador surgiu aos 83 por Daka Patson, num lance que começou com uma grande abertura da esquerda para a direita do ataque.
O Red Bull Salzburgo tentou condicionar o Barcelona logo na primeira fase de construção, a cargo de Montes (capitão), Mingueza e Rey. Berisha (mais à direita) e Sturm (esquerda) foram-se revezando na pressão ao trio mais recuado do Barcelona, com Haidara a desempenhar um papel importante na tentativa de condicionar o Barcelona na altura de ligar defesa e meio-campo. No capítulo individual, não ficaram dúvidas quanto à superioridade do lado do Barcelona. Jordi Mboula, figura de proa da equipa “blaugrana”, foi o fator diferenciador, assumindo protagonismo numa jogada individual em que arrancou pelo lado direito do ataque, passou por três adversários e rematou em arco, sem hipótese para Zynel – arranque, drible e remate.
Com dificuldade em construir por força da pressão alta exercida pelo adversário, o Barcelona foi obrigado a recorrer frequentemente à bola longa, canalizando jogo maioritariamente pela ala esquerda. A desenvoltura de Marc Cucurella ajuda a explicar a tendência: Atuando pela esquerda, o jovem catalão apresenta boa capacidade de receção e também é jogador de créditos firmados no 1×1 para ofensivo, demonstrando uma interessante capacidade de aceleração que permitiu fugir várias vezes ao marcador direto. Sem bola, tanto Cucurella como Morer (lado contrário) procuravam fechar dentro. Com bola, a liberdade dos dois flanqueadores era maior, com Manneh e Busquets a desempenharem um papel importante a nível das coberturas defensivas.
Em suma, o Barcelona apresentou um modelo muito mais eclético, que incita à criatividade. O Red Bull Salzburgo assumiu uma postura mais rígida e normativa.
Finalista da UEFA Youth League pela segunda vez, o Benfica garantiu o acesso à final da UEFA Youth League graças a uma “entrada de rompante” no jogo contra o Real Madrid, expondo as numerosas debilidades defensivas da formação da capital espanhola. A meia-final entre portugueses e espanhóis foi nada mais nada menos que um duelo entre equipas que ocupam um pedestal idêntico no que concerne à qualidade de jogo em termos coletivos. A vitória do Benfica foi a da melhor equipa (do torneio) em termos coletivos, a da equipa que entrou mais esclarecida e descomplexada e teve no primeiro golo do jogo o tónico ideal para elevar o nível, marcando mais duas vezes antes dos 20 minutos por intermédio de João Félix, autor do primeiro golo do jogo e considerado um dos melhores jogadores do torneio pela UEFA, e por João Filipe. O primeiro legitimou a distinção pela “mão cheia” de boas exibições que acumulou na prova, mesmo quando a equipa passou por dificuldades. Recuperado de lesão, João Filipe também soube demonstrar todo o talento que lhe é reconhecido, reforçando a confiança de Hélder Cristóvão nos seus serviços para a equipa B. Mais do que pelo processo, no capítulo defensivo, o Benfica tirou partido da maturidade de Kalaica e Rúben Dias no eixo, da segurança de Fábio Duarte na baliza que esteve bem a sair dos postes e negou o golo ao Real Madrid em pelo menos duas ocasiões flagrantes. Pelas laterais, destaque para Buta, jogador que continua a demonstrar que está talhado para pisar terrenos mais avançados por forças das suas caraterísticas.
Sem surpresa, o Real Madrid acabou por ter mais bola, até porque esteve durante praticamente toda a partida a “correr atrás do prejuízo”, ainda que a nível de remates enquadrados com a baliza se registe um equilíbrio: 10-7. O Benfica, eficaz junto da baliza à guarda de Ramos, foi sempre mais incisivo, privilegiando o jogo direto à procura de explorar a velocidade na frente. A fantasia madridista residiu, quase sem exceção, nos pés de Sérgio Diaz, provavelmente o jogador mais virtuoso da equipa. Dani Gómez, autor do golo, também deixou apontamentos interessantes, mas decididamente não estamos a falar de uma das gerações mais talentosas que Valdebebas já conheceu. O Real Madrid teve o mérito de não desistir de discutir o resultado apesar do início pouco auspicioso, chegando aos 2-3 aos 58 minutos por Jaime Seoane e prolongando a incerteza quase até final, altura em que João Filipe fez o segundo golo da conta pessoal e estabeleceu o 2-4 final. O Benfica levou a melhor frente a uma equipa com um estilo idêntico, mesmo a nível da predisposição tática, algo próxima do 1x4x2x3x1.
Red Bull Salzburgo mais forte na decisão
No mundo do futebol, o conceito de justiça associado ao resultado final toma-se por algo dúbio. Por norma, quem joga melhor está sempre mais perto da vitória e, no caso da final da UEFA Youth League, foi a equipa mais competente na abordagem ao jogo que venceu. O Red Bull Salzburgo adotou uma interessante estratégia, na linha daquilo que já tinha feito frente ao Barcelona, condicionando o Benfica logo na primeira fase de construção e obrigando a bater na frente de forma quase sistemática. Nas divididas, não subsistiram dúvidas quanto à superioridade dos austríacos, sobretudo pelo ar.
Segundo os dados da plataforma “Instat”, em 58 duelos aéreos, o Red Bull Salzburgo ganhou 41. No cômputo geral, a mesma tendência, com 58 por cento dos duelos ganhos pela equipa austríaca. Rápida e eficaz a recuperar a posse naquele que é um dos princípios mais vincados do seu estilo de jogo, teve mais bola que o adversário (55 por cento) e procurou quase sempre jogar a poucos toques, de forma vertical, queimando metros no sentido da baliza defendida por Fábio Duarte. Os elementos do meio-campo gozaram de maior liberdade para atuar que os do Benfica e a defesa pautou pela coordenação, fator indispensável na estratégia do Salzburgo, capaz de explorar as vulnerabilidades defensivas do Benfica pelos corredores laterais. Em relação ao jogo com o Real Madrid, os “encarnados” não foram capazes de desequilibrar tanto por terem encontrado uma equipa muito mais solidária e coesa a defender, rápida a pressionar e a anular o espaço para jogar entre linhas. Mais uma vez, é impossível relativizar a vantagem do Red Bull Salzburgo do ponto de vista físico, sobretudo porque a diferença se acentuou ao longo de desafio. O Benfica foi incapaz de segurar a vantagem frente a uma equipa que para além da qualidade estratégica, evidenciou uma interessante mentalidade nesta final four, capaz de ser suficientemente madura para responder a cenários de adversidade.
No remate da “final-four” da prova, a UEFA destacou os melhores jogadores de cada uma das equipas envolvidas. Daka Patson, a “arma secreta” que saltou do banco nos jogos com Benfica e Barcelona, é um jogador de inegável qualidade. O internacional sub-20 pela Zâmbia dá colorido ao jogo austríaco e possui caraterísticas diferentes numa equipa que por vezes chega a ter um comportamento que reprime a qualidade individual dos seus jogadores. Hannes Wolf também mereceu uma menção honrosa graças aos golos marcados, jogador que já se estreou pela equipa principal e deu um contributo importante à equipa. Não obstante, a capacidade coletiva é mesmo a dimensão mais importante para os austríacos. O entrosamento, o compromisso, a entre ajuda sem bola e a objetividade em posse definem uma equipa muito intensa, aguerrida e muito dura nas bolas divididas. Psicologicamente, a equipa austríaca nunca caiu significativamente e teve que dar a volta ao marcador nos dois jogos que disputou. Na final, o golo marcado por Zé Gomes contra a tendência do jogo não fez com que a equipa local abdicasse dos seus princípios, acabando por tirar proveito disso mesmo. A manutenção do nível físico perante a quebra do Benfica, visivelmente desgastado, também foi determinante para a vitória austríaca que virou o resultado com golos de Daka Patson e Alexander Schmidt no segundo tempo.
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