O projeto equatoriano de maior evolução dos últimos anos atingiu seu ápice ao final de 2019, quando o conjunto dirigido por Miguel Ángel Ramírez conquistou o inédito título da Copa Sul-Americana. Com alicerces sólidos nas categorias de base e na prospecção de talentos, o Club de Alto Rendimiento Especializado Independiente Del Valle já colhe seus frutos ao revelar atletas com qualidade e revendê-los ao exterior, com os exemplos de Stiven Plaza (Real Valladolid), Gonzalo Plata (Sporting) e Jordan Rezabala (Tijuana), além da recente venda de Alan Franco ao Atlético Mineiro comandado por Jorge Sampaoli.
Mesmo sendo assediado por equipes de outros países, principalmente brasileiras, a continuação do trabalho do jovem diretor técnico espanhol nos Rayados favoreceu a manutenção e o desenvolvimento do modelo de jogo que o consolidou como um dos melhores times da América. Praticando o jogo de posição, Ramírez potencializou as individualidades do grupo por meio de mecanismos que facilitassem a conexão entre os jogadores com um ponto primordial de sua filosofia: o passe.
“Eu creio, e nós acreditamos, que essa forma de jogar, com os elementos que tenho, nos deixa mais próximo de ganhar. Não tenho um Bruno Henrique (Flamengo), que dispara e faz o que quer. Com elementos que tenho, creio que é mais importante um funcionamento coletivo. E para isso o passe é a via de comunicação, a forma como relacionamos todos.” Miguel Ángel Ramírez ao Globoesporte.com
Em palavras iniciais, é preciso destacar a aplicação dos conceitos do jogo de posição. A garantia de superioridades desde os primeiros passes, as ativações de terceiro-homem para facilitar a progressão e a interpretação de seus comandados na exploração de espaços e criação de linhas de passe são só alguns movimentos que realçam o trabalho tático do treinador. Com a posse de bola como ferramenta, a equipa de Sangolquí vinha desempenhando um futebol efetivo e consistente na atual temporada, tendo como base estrutural o seguinte 11 inicial:
Com o começo de temporada frenético disputando duas competições continentais (Recopa e Libertadores) e o campeonato nacional, Ramírez adotou um rodízio de jogadores no 11 inicial, dando chances a vários jovens, com destaque para Moisés Caicedo (médio defensivo) e Jhon Sánchez (extremo), que podem vir a se tornar peças importantes em um futuro próximo. Além deles, Christian Ortiz (extremo contratado esse ano junto ao Sporting Cristal) e Alejandro Cabeza (avançado, também das categorias de base do clube, mas com minutos desde a temporada 2016) também são nomes recorrentes no XI titular.
Organização Defensiva
No momento defensivo o Independiente Del Valle costuma postar-se em um 4-1-4-1 em bloco médio, com referências de posicionamento mistas, variando entre perseguições longas e vigilâncias setorizadas aos jogadores adversários. Em cenários de pressing tem a tendência de manter os encaixes individuais de modo a facilitar a pressão orientada aos lados e a diminuir as linhas de passe por dentro.
Impedir a Construção
Quando está pressionando, os encaixes individuais adaptam-se de acordo com o sistema rival. Os extremos podem vigiar tanto os laterais, quanto saltar em pressão sobre os centrais oponentes, enquanto os interiores acompanham os meias, tendo em Cristian Pellerano um médio-defensivo compensando as lacunas entrelinhas e laterais. Nessas ocasiões, a capacidade física dos laterais é muito apreciada, por vezes precisando cobrir uma faixa muito grande de campo entre lateral e ponta adversários. Nesse momento, o principal objetivo não está propriamente em recuperar a posse em terrenos altos, mas impedir a progressão pela faixa central.
Impedir a Criação
Ao recuar o bloco, as marcações por setor são evidenciadas. Com boa capacidade para cortar as linhas de passe através da agressividade nas perseguições e abordagens, o Del Valle consegue recuperar a bola com certa rapidez. A basculação e os movimentos de cobertura também estão ajustados de modo que o jogador que estiver mais próximo a bola possa tentar recuperá-la, tendo outro companheiro para cobrir seu posicionamento com referência ao jogador adversário. Mesmo com seus centrais saindo constantemente de sua zona e oferecendo espaços para serem explorados, a pressão ao receptor é tão intensa que dificilmente o atacante rival consegue ter oportunidade para atacar a última linha defensiva.
Aqui as dificuldades podem surgir ao enfrentar equipes com grande mobilidade ofensiva, tendo muitos jogadores movimentando-se, rompendo constantemente o espaço e desmarcando-se em apoios, de modo que os encaixes consigam ser desarranjados.
Transição Ofensiva
Possuindo jogadores com aspectos físicos destacados, principalmente nos lados do campo, a transição ofensiva do time é um momento onde o surgimento de oportunidades está facilitado. Com 3 médios com qualidade para lançar transições e jogadores ao espaço, com destaque para Efrén Mera, Los Rayados podem chegar ao último terço com facilidade, tendo em Gabriel Torres um suporte em desmarques de apoio e nos extremos duas figuras importantes para alargar a linha defensiva e atacar em movimentos diagonais. Além de que, como será explicado mais adiante, é um conjunto com facilidade para eliminar pressões, geralmente conseguindo retirar a bola da zona de pressão com tranquilidade.
Organização Ofensiva
Fase da Construção
Com bola, já foi supracitado que Miguel Ángel Ramírez é adepto do jogo de posição, de modo que tem como um de seus princípios em campo a necessidade de que os jogadores que estão recuados consigam gerar vantagens posicionais para os mais adiantados, de modo que o que ocorra no terço final seja consequência da fase de iniciação. Dessa forma, procura sair de forma curta e elaborada, merecendo destaque o protagonismo dos centrais Richard Schunke e Luis Segovia e do guarda-redes, Jorge Pinos, com o esférico para atrair rivais e dividir atenções, liberando espaços para os médios explorarem. Pellerano também conta com muito peso associativo nessa etapa, colocando-se entre os zagueiros para gerar superioridade numérica desde os primeiros toques e facilitar a criação de linhas de passe.
Na Libertadores atual, entre os 10 melhores passadores da competição, 3 são do Del Valle. Schunke, Segovia e Pellerano, todos com mais de 90% de média de acerto nos passes. (Sofascore)
Ademais, ainda em fases de elaboração, os laterais costumam manter-se em amplitude média, mas podendo variar para uma ocupação da zona entrelinhas dependendo do escalonamento dos interiores no meio-campo. Enquanto isso, extremos e centroavante fixam adversários em largura e profundidade, aguardando para serem ativados em condições para desequilibrar, principalmente em 1×1 no que se refere ao trabalho dos pontas.
Fase da Criação
Estabelecidos em campo ofensivo, a manutenção da posse de bola sustenta-se na capacidade dos jogadores em variar os posicionamentos dos triângulos associativos na ocupação dos espaços. Faravelli e Mera podendo flutuar entre a base e a entrelinha, laterais com movimentos em corredores internos (Beder Caicedo merecendo destaque na ocupação de zonas entrelinhas), extremos aguardando em amplitude total e Torres a surgir constantemente em apoios para facilitar a ativação do terceiro-homem.
Demonstrando uma posse de bola fluída e objetiva, o Independiente Del Valle consegue articular linhas de passe com facilidade, encontrando o homem-livre com continuidade e mantendo os mecanismos de atração e liberação de espaços entrelinhas para serem explorados pelos meias. Mesmo sem ter extremos com tanta qualidade para desequilibrar com bola ao pé (a perda de Cristian Dájome para o Vancouver Whitecaps continua a ser sentida), a equipa consegue encontrar soluções para anotar seus gols, tendo marcado 16 em 8 jogos na atual temporada.
Um fato curioso é de que, embora tenha jogadores com idade elevada (Pellerano com 38 e Mera com 34, principalmente), o conjunto possui boa capacidade física para manter os padrões de jogo até o final da partida. Isso fica palpável pelo fato de que 13 de seus gols foram marcados na segunda etapa, tendo anotado 8 nos últimos 15 minutos de jogo.
Transição defensiva
Embora demonstre muita agressividade individual em algumas ocasiões para pressionar após a perda da posse, esses comportamentos de counter-pressing não são padronizados ou estruturados para todas partidas. Muitas vezes, uma recomposição rápida é a opção escolhida, de modo a conter a progressão adversária em contra-ataques e, dessa forma, entrar em organização defensiva. Aqui reside uma dificuldade para defender-se desses contragolpes velozes, pelo fato de ter, geralmente, 3 jogadores em balanço defensivo (Schunke, Segovia e Pellerano) e mostrando debilidades em acompanhar seu marcador e defender em espaços demasiado abertos.
Cantos ofensivos
Apresentando algumas variações no decorrer dos jogos, adaptando-se especialmente aos adversários, o Del Valle costuma ter Mera e Murillo (ou Ortiz, como na última partida antes da interrupção por conta da COVID-19) como principais batedores.
Em curvaturas out é comum ver um posicionamento base de 4 ou 5 jogadores próximos a marca do pênalti, com um desses atletas tentando bloquear o avanço de um dos marcadores sobre Caicedo, especialmente. Em curvaturas in há uma aglomeração na primeira trave, na tentativa de limitar ações do goleiro e promover algum desvio rápido. Além disso, costuma posicionar 2 jogadores para o rebote, sendo que um desses homens pode adentrar a área para tentar o arremate e o outro pode surgir como opção de jogadas curtas.
Cantos defensivos
Com uma marcação predominantemente individual, a equipe costuma variar a quantidade de jogadores dentro da própria área com base no ataque adversário. Geralmente, tem 4 ou 5 marcadores perseguindo homem a homem, enquanto 2 ficam próximos ao primeiro poste, para diminuir os lances perigosos em um cruzamento curto.
Pontos Fortes (a condicionar)
- Capacidade de atrair, vencer pressões e gerar vantagens táticas aos companheiros;
- Ocupação racional dos espaços e fortalecimento de triângulos associativos;
- Facilidade nas conexões entre setores, variando a posse entre corredores;
- Movimentações de jogadores adiantados em apoios para conectar o setor ofensivo;
- Agressividade nos encaixes individuais e setoriais em organização defensiva;
Pontos Fracos (a explorar)
- Dificuldade de defender-se em transição quando o primeiro momento de pressão é vencido;
- Equilíbrio da linha defensiva contra adversários com mobilidade ofensiva;
- Cobertura entrelinhas quando Pellerano é atraído a outro setor;
Jogadores Chave
Jorge Pinos (Guarda-redes) – Com confiança e qualidade para sair jogando com os pés, o goleiro com passagem por vários clubes equatorianos encontrou seu lugar no Del Valle de Ramírez. Principalmente por meio de passes curtos, surge ativo na saída de jogo, trabalhando bem a posse com os zagueiros, mesmo sob pressão adversária.
Richard Schunke (Central) – O defensor argentino de 28 anos foi outro jogador que atingiu seu mais alto nível com o treinador espanhol. Sem bola, agressivo para perseguir, seguro nos duelos e sólido ao defender a área. Com bola, possui critério nos primeiros passes, apresentando qualidade nos lançamentos e inversões, e na eliminação de pressões ativando os médios em condições de desequilíbrio.
Cristian Pellerano (Médio defensivo) – O jogador mais experiente do grupo, tendo passagens por grandes clubes como América-MEX, Independiente-ARG e Racing-ARG, soma toques com classe na base da jogada. Com boa orientação para perfilar o corpo nos primeiros domínios, surge como peça fundamental para a fluidez da posse de bola da equipa em seu jogo de posição.
Lorenzo Faravelli (Médio centro) – Contratado este ano junto ao Huracán, Faravelli ofereceu uma opção de maior dinamismo no meio equatoriano. Ao recepcionar entrelinhas apresenta bom giro orientado para conduzir e quebrar linhas de marcação adversárias, além de somar aparições na base da jogada para auxiliar em fases de elaboração. Com a saída de Alan Franco, deverá se tornar o personagem principal da ligação entre meio e ataque.
Efrén Mera (Médio centro) – Capitão do grupo, já conta com mais de 122 partidas pelo clube desde 2017, anotando 24 gols e 24 assistências nesse período. Interior relacionado ao jogo entrelinhas, possui refino técnico nos passes em profundidade, na armação das jogadas ofensivas e nos primeiros toques para fugir de pressões, além de ter evoluído na percepção posicional dos espaços.
Promessas atuais
Luis Segovia (22 anos) – Zagueiro canhoto que também pode atuar como lateral-esquerdo, Segovia demonstrou muita habilidade com bola ao pé na iniciação das jogadas. Buscando passes verticais, progredindo com a bola dominada ou ocupando zonas adiantadas, o central foi capaz de acrescentar vantagens quando o time tinha a posse. Em momento defensivo, destaca-se pela agressividade em perseguições e pelo timing dos desarmes. Esteve no último pré-olímpico.
Angelo Preciado (22 anos) – Lateral-direito que já vestiu a camisa da seleção principal do Equador, Preciado destaca-se pela aptidão física e pela interpretação de sua função no esquema proposto por Miguel Ángel Ramírez. Participando ativamente da formação de triângulos, costuma aparecer por zonas interiores e entrelinhas, embora ainda não tenha um gesto técnico tão desenvolvido em espaços reduzidos.
Moisés Caicedo (18 anos) – Se Pellerano é o jogador mais experiente do grupo, seu substituto é o mais jovem. Porém, apesar da tenra idade, apresenta um talento elogiável quando chamado a campo. Geralmente atuando como 1º homem de meio campo, elimina rivais com agilidade por meio de domínios orientados e passes de ruptura. Também apresenta boa leitura defensiva para fechar espaços e cobrir avanços em pressão.
Jhon Sánchez (20 anos) – O extremo autor de um dos gols do título da Copa Sul-Americana, Sánchez também esteve no último pré-olímpico juntamente de Segovia. Veloz para romper espaços em condução ou em ruptura e hábil no confronto 1×1, apresenta-se como solução criativa pelos lados quando os pontas mais experientes não conseguem desequilibrar. Atuou como lateral-direito nos confrontos contra o Flamengo pela Recopa Sul-Americana.
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