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Lazio – O que pode esperar o FC Porto

O FC Porto vai defrontar a Lazio no playoff de acesso aos oitavos de final da Liga Europa. Esta eliminatória é uma reedição das meias-finais desta mesma competição da temporada 2002-2003, que terminou com vitória para o Porto, que carimbou o bilhete para a final e acabou por ganhar mais um título europeu.

Há quase duas décadas atrás, José Mourinho estava do lado português e Roberto Mancini do lado italiano. Nos dias de hoje, é Sérgio Conceição o comandante do Porto e Maurizio Sarri o comandante da Lazio.

O currículo dos azuis e brancos nas competições europeus é um dos melhores a nível europeu e já é conhecido por todos nós. Quanto ao clube romano, a Lazio tem sido presença assídua nesta competição nos últimos dez anos (tirando em 20-21 quando se apuraram para a Liga dos Campeões e outras duas temporadas quando não se qualificaram) mas nunca com grande sucesso.

Vai ser um duelo entusiasmante, com grande expectativa do lado do FC Porto que depois da eliminação da Liga dos Campeões vê na Liga Europa uma oportunidade para o sucesso Europeu. Como forma de antevisão à eliminatória, preparamos uma análise sobre a Lazio, de forma a anteciparmos o que o clube português vai encontrar pela frente.

A equipa da Lazio

A Lazio tem um plantel com qualidade, talvez distante do plantel de há duas temporadas ou mesmo da última temporada, mas ainda assim apresenta jogadores de grande calibre. Por outro lado, o plantel é desequilibrado e está talhado para um sistema que não o de Sarri.

Com base nos onzes que têm apresentado nos últimos jogos e com base nas lesões que existem no plantel (Acerbi e Lazzari), apresentamos aqui a equipa que deverá fazer frente ao FC Porto.

De forma minimamente resumida, temos uma equipa em 4-3-3, com um quarteto defensivo bastante desequilibrado. Patric, que substitui Acerbi, revela imensas falhas defensivas, e Marusic é um lateral esquerdo adaptado, pois é essencialmente um ala direito. Curiosamente, estes dois jogadores vão ser apontados como principais responsáveis de um dos problemas da Lazio na parte da análise estatística. Luiz Felipe é um jogador mais forte fisicamente e competente no processo defensivo do que o seu colega de posição e Hysaj, é um lateral direito que Sarri já conhece dos tempos do Nápoles (271 jogos sobre o comando deste treinador), mas que não tem a mesma preponderância ofensiva que Lazzari.

No meio-campo, Lucas Leiva é um jogador muito experiente, é o elemento mais posicional e que tem a responsabilidade de conferir equilíbrio à equipa. Luis Alberto é um médio que se destaca pela capacidade com bola. Apresenta um toque refinado e é muito esclarecido no passe, no entanto tem claros défices ao nível defensivo e de intensidade. Sergej Milinkovic-Savic é um médio que tem um grande poderio físico, grande propensão ofensiva e uma boa chegada à área (algo que vai ser realçado na análise das dinâmicas ofensivas).

Por fim, no ataque, temos Pedro Rodríguez do lado direito, um extremo que já não apresenta a velocidade de outrora, mas faz-se valer pela sua inteligência e qualidade na definição. Mattia Zaccagni é o jogador que ocupa o lado esquerdo. É um jogador forte no processo da criação, sabe ocupar os espaços, tem uma boa capacidade técnica e é comprometido defensivamente. Por último, temos Ciro Immobile, que está em dúvida para o jogo, é o elemento mais diferenciador da equipa e um dos melhores avançados a nível mundial. A sua movimentação e qualidade de remate são as principais ameaças à defesa do FC Porto.

Caso Immobile não jogue, a alternativa pode passar por jogar Pedro no corredor central ou em último caso por Milinkovic-Savic. Nenhuma destas alternativas é muito viável, e caso se confirme a ausência do avançado italiano, é uma perda enorme para a Lazio que não tem nenhum substituto direto.

Para além destes jogadores, há Felipe Anderson que pode ser uma opção interessante como alternativa a Pedro. Danilo Cataldi que já jogou no lugar de Lucas Leiva, mas é improvável que aconteça (nem que seja pelo perfil mental do médio brasileiro), Toma Basic, médio que também não deve ser opção, e Jovane Cabral, que poderá saltar do banco para causar impacto como acontecia no Sporting.

Em suma, esta equipa da Lazio vinha a jogar com uma defesa a 3 nos últimos anos e o plantel é talhado para isso mesmo. Ainda assim, Sarri forçou o 4-3-3 e nota-se que há claros défices em algumas posições. No geral, a equipa tem nomes de excelência, como Luis Alberto, Milinkovic-Savic e Immobile, mas denota-se a falta de intensidade desta equipa, algo que, quer se goste ou não, é sem dúvida um fator muito importante e que pode ser decisivo (como aconteceu contra o Milan), o que contrasta com o perfil do plantel do Porto.

Momento Defensivo

A Lazio procura manter ao máximo o 4-3-3 como base, mas numa pressão organizada faz subir o médio interior do lado da bola de forma alternada para impedir a saída do adversário. Para manter o equilíbrio, os extremos procuram fechar dentro e só saltam ao lateral quando a bola entra nos mesmos, e o médio mais recuado (Lucas Leiva) oscila de modo a ocupar o espaço vago deixado pelo médio interior que saiu para pressionar.

O principal problema é que quando o adversário é capaz de circular a bola entre os corredores de forma rápida, o médio mais recuado e os próprios médios interiores mostram-se incapazes de cobrir toda a área do terreno, os defesas são obrigados a sair de posição, e gera-se espaço para o adversário entra no bloco dos “Biancocelesti” e atacar as costas da defesa.

Quando num bloco médio ou baixo, a Lazio procura manter os setores o mais junto possível, algo que é feito com alguma eficácia. Os médios interiores já não oscilam tanto e procuram impedir o acesso ao corredor interior, com o médio mais recuado sempre como pêndulo defensivo e, por norma, há um bom compromisso defensivo por parte dos extremos, mas basta não haver esse acompanhamento defensivo por parte destes elementos e facilmente o bloco da Lazio é batido.

Para concluir, a Lazio é uma equipa com alguns problemas defensivas (um deles ainda vai ser abordado na parte da estatística) e que sofre quando o adversário acelera o jogo. Para além disso, a diferença de intensidade e disponibilidade física entre o Porto e os italianos é notável, o que pode vir a ser um dos fatores decisivos da eliminatória.

Momento Ofensivo

No momento da saída de bola desde trás, a Lazio mantém sempre uma grande rigidez posicional, principalmente contra adversários de igual ou maior poderio. Os centrais são pouco agressivos e provocam pouco o adversário, o que não ajuda para destabilizar o bloco adversários. Os laterais mantêm-se em terrenos recuados para atrair a equipa adversária, Luis Alberto procura ocupar a zona entra o corredor lateral e o corredor central. Milinkovic-Savic ocupa zonas mais adiantadas no terreno e é menos influente neste processo.

Já numa zona mais adiantada do terreno, o destaque vai para a posição que ocupa Milinkovic-Savic. O médio sérvio junta-se a Immobile, que descai ligeiramente para o lado direito. Na ausência das subidas do lateral. O extremo do lado oposto à bola mantém-se sempre aberto, para esticar a defesa. As dinâmicas mais positivas são quando Milinkovic-Savic se larga da marcação, recua no terreno e surge como elemento surpresa, o que manipula tanto a linha defensiva como a linha do meio-campo, ou quando acontece o contrário – Immobile recua para ligar jogo e arrastar marcações, e Milinkovic-Savic ataca o espaço criado pelo avançado italiano. Para além disso, nota para a dinâmica dos laterais, que não se projetam muito ofensivamente, mas que coordenam entre si a subida no terreno (sobe o lateral do lado da bola e o outro fecha junto dos centrais) de forma a garantir equilíbrio e suporte defensivo numa eventual perda de bola.

Como ponto negativo, o destaque vai para a rigidez posicional e falta de dinamismo que a Lazio apresenta nos jogos de maior dificuldade. No fundo, a Lazio procura não fugir muito destas dinâmicas referidas anteriormente, em parte de forma a precaver as transições defensivas, o que acaba por se traduzir muita posse, mas sem dinamismo e com pouco volume ofensivo. Este é um fator que melhora muito quando os laterais têm liberdade para subir e potenciar o jogo interior dos extremos.

A Lazio é uma equipa capaz na transição e tem recursos técnicos e táticos para recorrer a bola longas, muito pela qualidade de definição dos executantes e pela inteligência dos movimentos de Immobile, o elemento mais decisivo dos italianos.

Nos jogos de maior exigência, tem sido apanágio do Porto apresentar uma pressão exemplar e uma equipa bastante concentrada e focada, o que vai causar muitos problemas à Lazio e dificultar a posse “passiva” na procura dos espaços que por vezes a equipa apresenta.

Análise Estatística

Ainda que os jogos para as competições europeias e para o campeonato sejam bastante diferentes, no âmbito de entender melhor as qualidades e fragilidades de uma equipa será mais indicado fazer uma análise relativa ao campeonato, uma vez que a amostra é mais ampla e o equilíbrio é também maior.

Começando aqui pelo processo ofensivo, apresentamos aqui um gráfico, que representa os principais parâmetros a avaliar e a performance da Lazio comparativamente às restantes equipas na liga italiana.

Este radar reflete a dificuldade que a Lazio tem em fazer proveito da sua percentagem de posse de bola. O xG acumulado e o número de remates é reduzido e nestes parâmetros, bem como nos números de entradas na grande área e no último terço, a equipa de Sarri encontra-se na metade inferior da tabela. Por outro lado, a eficácia na conversão das oportunidades é máxima – a Lazio cria 1.5xG p/j mas marca 2,08 golos p/j, o que se traduz numa overperformance enorme e de longe a maior do campeonato, um fator intimamente associado à finalização de excelência de Immobile. Podemos destacar também a pouca eficácia nos duelos ofensivos, que reflete o perfil geral da equipa.

No processo defensivo, aplica-se a mesma ideologia. Foram escolhidos os principais parâmetros a nível ofensivo e foi obtido o seguinte radar.

Aqui o radar é ainda menos amplo e espelha os claros défices defensivos da equipa. O destaque mais negativo vai para a reduzida eficácia nos duelos defensivos e cortes, algo mais uma vez representativo da falta de intensidade física e mesmo mental da equipa. Ainda assim, o número de recuperações de bola no meio-campo adversário é alto, o que contrasta com o número de recuperações de bola total e que demonstra a dificuldade da Lazio em recuperar depois de ultrapassada a primeira fase de pressão.

Outro dado interessante ao qual temos acesso é a localização dos remates e golos a favor e contra da equipa da Lazio. O mapa de golos a favor da Lazio é bastante amplo, com os golos marcados distribuídos de forma relativamente equitativa na área. Quanto aos golos sofridos, há uma clara tendência para a equipa contrária marcar do lado direito da pequena área como é visível na seguinte imagem.

Fonte: Instat

Depois da análise de vídeo, facilmente concluímos que o principal motivo para isto acontecer pode ser associado aos jogadores que ocupam o lado esquerdo da defesa, com foco para Marusic, (ala direito adaptado a lateral esquerdo) e Patric, que tem vindo a ser titular em detrimento de Acerbi, que está lesionado. O central espanhol revela alguns falhas de posicionamento e leitura defensiva, o que associado ao facto de Marusic também não se revelar muito confortável naquela posição origina erros defensivos.

Forma Recente

A Lazio vem de um conjunto de jogos difíceis, contra algumas das melhores equipas de Itália. As exibições foram inconstantes, mas os resultados foram o esperado.

Fonte: Flashscore

Nos últimos três jogos a Lazio conta com duas vitória por números bastantes razoáveis (3-0). Contra a Fiorentina, apesar do resultado expressivo, foi uma exibição pouco convincente e com muito demérito do adversário. Contra o Bologna, um adversário de menor poderio, a Lazio foi mais capaz e dinâmica com bola, com os laterais subidos e a fazerem movimentos em profundidade, e no geral foi um jogo muito mais conseguido.

Por fim, contra o Milan, numa partida a contar para a taça, a derrota por 4-0 foi bem demonstradora da incapacidade da Lazio perante adversários de maior qualidade e que imprimam no jogo maior intensidade, o que podemos associar à eliminatória contra o Porto.

Conclusão

Esta eliminatória é a reedição da semi-final da Liga Europa 2002/2003. O Porto levou a melhor há duas décadas atrás (4-1 no agregado dos dois jogos) e acabou mesmo a ganhar a competição. Os anos passaram, e agora, vinte anos depois, o Porto parte como equipa mais forte.

A Lazio é uma boa equipa, com alguns jogadores de excelência, mas tem um plantel com muitas debilidades e ainda longe da máquina coletiva que Sarri criou no Nápoles. A grande incógnita para o jogo da 1º mão é a presença de Immobile. A imprensa italiana coloca-o de fora por “febre”, algo que caso se confirme reduz consideravelmente o poderio dos “biancocelesti”.

O FC Porto é uma equipa que costuma abordar muito bem nos jogos europeus, faz do Estádio do Dragão uma fortaleza e vai dificultar ao máximo o trabalho da Lazio. O resultado é sempre uma incerteza, mas certamente vai ser uma 1º mão e uma eliminatória muito interessante, entre duas equipas e dois treinadores diferentes, e que estão na história das competições europeias.



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