Lincoln – A libertação de um craque
Formado no Grémio, Lincoln foi um dos protagonistas da sua geração nos escalões jovens da seleção no Brasil. O craque brasileiro foi lançado na equipa principal do Grémio apenas aos 16 anos e em 2017 fez parte da equipa que venceu a Copa Libertadores, um troféu destinado aos melhores.
A subida ao futebol sénior não foi muito bem conseguida e ainda em 2017, Lincoln foi emprestado ao Caykur Rizespor da Turquia. Um ano depois voltou ao clube que o formou para ser emprestado ao América MG, onde apenas esteve 4 meses.
No verão de 2019, veio para Portugal, para jogar no Santa Clara. Vai agora na 3º temporada pelo clube açoriano e é uma das grandes afirmações da temporada 21/22.
O perfil de Lincoln
Lincoln é um médio ofensivo, o típico “10”, que prima pelo passe. Joga predominantemente na zona central, mas descai muito para a ala esquerda, procurando criar perigo desde aí. É um jogador com uma boa capacidade técnica, apresenta um 1º toque interessante (ainda que pouco constante) mas o principal destaque vai para o passe. Revela um passe de rutura e último passe bastante desenvolvidos.
No entanto, tem claras limitações a conduzir a bola por vários metros, imprime pouca velocidade ao jogo e tem um curto raio de ação no processo ofensivo. É forte a resistir à pressão, mas não é algo muito comum de acontecer, associado à sua reduzida intensidade e disponibilidade para movimentos físicos mais intensos. No momento sem bola ainda tem muito que melhorar: oferece poucos movimentos de rutura e não se destaca por receber dentro do bloco adversário. Procura receber nas alas ou em zonas mais recuadas para ver o jogo de frente.
A sua falta de intensidade e pouca disponibilidade de acelerar o jogo espelha-se no momento defensivo. É pouco ativo na pressão e na recuperação de bola, tem um posicionamento pouco desenvolvido e uma leitura defensiva também pouca trabalhada.
Análise Estatística
Se nos focarmos num mesmo jogador durante vários meses ou até temporadas, facilmente conseguimos fazer uma análise do seu rendimento, que aspetos melhorou ou piorou e se, acima de tudo, evolui como jogador. Ainda assim, a estatística é algo que dá outra perspectiva da evolução do jogador, em parte até mais assertiva, e com base nos índices de volume e eficácia podemos concluir se o jogador evoluiu ou não em vários parâmetros.
Desta forma, selecionamos os principais parâmetros que devem ser avaliados na posição de Lincoln, e obtivemos o seguinte gráfico:
Algo que salta logo à vista é o maior volume de contribuições para golo, algo ainda mais relevante tendo em conta que vamos ainda a meio da temporada. O jogador brasileiro também se mostra mais ativo no processo ofensivo da equipa, com mais passes e mais passes chave. Em termos de remate e drible, o volume aumentou ligeiramente, enquanto que defensivamente o número de recuperações de bola baixou ligeiramente, algo que pode estar associado à maior influência no processo ofensivo.
Por último, vamos olhar para um gráfico com os mesmos parâmetros do anterior, mas que compara Lincoln aos restantes jogadores do campeonato na sua posição (com um mínimo de 500 minutos jogados) através do percentil.
A interpretação que podemos fazer deste gráfico e do “percentil” é que, pegando no exemplo do número de golos, na temporada 20-21 Lincoln marcou tanto ou mais que 38% dos restantes jogadores equacionados, encontrando-se assim no “top-62%”.
Assim, comparando o percentil das tuas temporadas temos outra visão da evolução de Lincoln. O jogador encontra-se muito melhor posicionado em contribuições para golo (G+A), bem como no remate e drible. No volume de passes e eficácia o raciocínio mantêm-se, enquanto que nos passes chave a subida na tabela é mínima. O único parâmetro onde se regista uma descida, tal como no gráfico anterior, é no número de recuperações de bola
Para além disso, o Santa Clara baixou claramente de rendimento comparativamente à época anterior e Lincoln é dos poucos jogadores a contrariar essa tendência, merecendo assim um especial destaque por isso mesmo.
Onde encaixa melhor Lincoln em Portugal?
Estando Lincoln a jogar em Portugal, é quase impossível não associar um jogador com um rendimento acima de média nos clubes de meio da tabela aos “três grandes”. Em primeiro lugar, é importante analisar se o jogador tem ou não qualidade e potencial para jogar num desses clubes, e neste caso, ainda que o jogador beneficie do contexto onde está inserido, por regra geral, Lincoln seria uma opção bastante interessante para qualquer um dos clubes do top-3 do Campeonato, não para titular no imediato, mas inicialmente para oferecer maior profundidade e qualidade aos plantéis.
No entanto, apesar de ter qualidade para uma equipa de nível superior, é um jogador que teria algumas dificuldades em certos contextos.
– O Porto tem um plantel com muita qualidade para o setor mais avançado. Com Fábio Vieira, Pepê e até Francisco Conceição a ganharem cada vez mais influência como segunda opções, o jogador do Santa Clara teria alguma dificuldade em entrar no onze e para além disso, tem um perfil que contrasta com a restante equipa do Porto e com o próprio treinador – pouca intensidade e pouca velocidade nas ações.
– No Benfica, o presidente Rui Costa afirmou que um dos objetivos passa por reduzir o tamanho do plantel. Por um lado, o jogador brasileiro poderia ser uma boa opção para substituir uma das “estrelas” que pouco jogam e pouco rendem, por outro lado, poderia vir a sentir dificuldades perante tanta responsabilidade e competição por um lugar no onze.
– No Sporting, as opções para a frente de ataque são mais escassas. Pedro Gonçalves é a grande estrela, Sarabia está apenas por empréstimo e Nuno Santos tem jogado cada vez mais na ala esquerda. Lincoln seria uma opção interessante para ocupar uma dessas posições, vai de encontro à estratégia recente do Sporting de contratar no mercado nacional, tem uma grande margem de progressão e podia evoluir muito com Rúben Amorim. Ainda assim, à semelhança do que acontece na situação do Porto, teria algumas dificuldades em encaixar no sistema do treinador.
No fundo, mais do que ser um jogador adequado para um ou outro perfil de jogo, Lincoln precisa de jogar numa equipa que o liberte de responsabilidades defensivas e não o obrigue a jogar com alta intensidade com bola, onde principal tarefa seja desbloquear o jogo através do passe.
Para além disso, no Santa Clara o jogador brasileiro é a estrela da equipa, tem muito protagonismo e beneficia bastante disso, principalmente pelo papel que tem no jogo da sua equipa. Num patamar superior (na realidade portuguesa no Porto, Benfica ou Sporting) seria teria menos espaço e protagonismo, e consequentemente, seria previsível que o seu rendimento baixasse.
Conclusão
Por fim, Lincoln é um jogador com qualidade, tem um passe muito vistoso e alguns pormenores técnicos que saltam à vista. No entanto, ainda tem muitas lacunas, a nível da intensidade, velocidade que imprime no jogo e obviamente, no processo defensivo. É um jogador muito específico e cujo perfil indica que, na verdade, Lincoln teria alguma dificuldade em encaixar num patamar mais elevado como titular, no nosso contexto nos “três grandes” – Porto, Benfica e Sporting.
Ainda assim, tem sido um dos destaques do campeonato das equipas fora top-3 e é notável a sua evolução como jogador desde que chegou ao Santa Clara. No final da temporada é um dos principais candidatos a dar o salto. Talvez não fique por Portugal mas certamente que irá dar um bom encaixe financeiro ao Santa Clara e irá brilhar noutro país e campeonato.
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