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Campeão em Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha, duas Liga dos Campeões e duas Liga Europa. Mourinho é indiscutivelmente um dos melhores treinadores de sempre. Saiu do Manchester United em dezembro do ano passado, e agora regressa a Londres para comandar o Tottenham. A grande questão que se coloca é: o que esperar de José Mourinho?

Passado recente

Os títulos de Mourinho falam por si. É um vencedor. No entanto, as últimas épocas têm sido conturbadas para o “special one”. Foi campeão no Chelsea em 14/15, mas foi despedido a meio da época seguinte. O percurso no Manchester United nunca ficou marcado pela qualidade do futebol praticado. Mas ficou marcado pelas conquistas. Na primeira época, apesar do sexto lugar na liga, o clube venceu a Liga Europa. Na segunda época Mourinho conseguiu aquele que considerou um dos melhores feitos da carreira: ficar em segundo lugar na Premier League com o Manchester United. Mas na terceira época não aguentou os maus resultados e foi despedido.

Características

Mas afinal o que faz das equipas de Mourinho equipas vencedoras? Quais são as características predominantes do técnico?

A formação preferida de Mourinho é o 4-2-3-1. É um treinador que procura que as suas equipas tenham superioridade no meio campo, mas assenta as suas bases numa defesa sólida e compacta, e num contra-ataque eficaz.

Mourinho, por norma, defende num bloco médio-baixo, para depois conseguir explorar o contra-ataque. A organização defensiva das suas equipas pode ser dividida em duas formas. A primeira é pela pressão efetuada homem a homem. Aqui, Mourinho pretende que o portador da bola esteja pressionado, mas não basta diminuir o tempo que o jogador tem para agir, mas também condicionar as linhas de passe. Os únicos jogadores que fazem este tipo de pressão são aqueles que têm um adversário à frente. Caso contrário, posicionam-se de forma a controlar uma determinada zona do campo. Assim estão livres caso seja necessário pressionar homem a homem, controlam bem o espaço e possíveis linhas de passe, e ajudam na cobertura. Ao estarem livres podem ser uma opção de passe para lançar o contra-ataque que Mourinho tanto privilegia.

No momento ofensivo Mourinho procura que a equipa efetue passes verticais, seja na exploração dos extremos ou dos avançados. No contra-ataque era semelhante. Assim que a equipa recuperasse a posse de bola, os defesas ou médios estavam encarregues de passar diretamente para o ataque. Aqui Mourinho utiliza avançados rápidos, fortes na transição, e aproveita os jogadores que tenham boa colocação de bola e boa capacidade para definir o ataque (ex: Cambiasso, Sneijder e Milito/Eto’o; Xabi Alonso, Ozil e Ronaldo)

Mourinho venceu o triplete no Inter de Milão

Na transição defensiva Mourinho pretende que os seus jogadores bloqueiem as linhas de passe e consigam intercetar a bola rapidamente. Na transição ofensiva a exploração dos extremos é a opção mais recorrente.

Mourinho pretende que os seus jogadores desempenhem funções que normalmente não estavam acostumados. É essencial para o modelo de jogo de Mourinho que, por exemplo, os avançados ajudem no processo defensivo, mas estejam sempre prontos para serem lançados no contra-ataque.

Tottenham: 18/19 de sonho, 19/20 de pesadelo

O trabalho de Pochettino ao longos dos 5 anos que esteve no Tottenham foi brilhante. Antes dela, os Spurs eram inconstantes na qualidade do futebol praticado e não obtinham os melhores resultados ou classificações.

Pochettino colocou a equipa num patamar superior, elevou-os ao estatuto de uma das melhores equipas de Inglaterra. O Tottenham praticou um futebol de qualidade e ofensivo, era uma equipa entusiasmante. A época 18/19 foi, possivelmente, das melhores dos últimos anos para o clube. Terminaram em 4º lugar na liga (atrás dos fortíssimos Man City e Liverpool e do vencedor da Liga Europa, Chelsea) e foram à final da Liga dos Campeões após uma meia-final de loucos frente ao Man City de Guardiola. O mais surpreendente, é que não fizeram uma única contratação para essa época.

Tottenham alcançou a final da Liga dos Campeões no ano passado

No começo de 19/20 as expectativas estavam altas para o Tottenham. Não só pelos feitos alcançados na época anterior, mas pelo mercado de transferências. Os Spurs contrataram Ndombelé, Lo Celso e Sessegnon, reforços que prometiam dar muita qualidade à equipa. Mas o melhor que conseguiram no mercado de verão, foi manter estrelas como Kane, Eriksen e Son.

Estas expectativas não foram correspondidas, e, à data, o Tottenham encontra-se no 14º lugar da Premier League. Em 17 jogos (todas as competições) venceram apenas 5, perderam 5, e empataram 7.

Problemas táticos

O insucesso desta época do Tottenham é fruto de vários fatores. A nível tático, a organização e transição defensiva do clube tem sido pobre. Para além disso, a falta de criação de ataques de qualidade e dificuldade na definição ofensiva, não têm ajudado a equipa a obter os resultados esperados.

O Tottenham alinhava habitualmente num 4-4-2 losango, em que Winks era o médio mais recuado, Sissoko e Ndombelé médios mais laterais, e Eriksen/Alli médio mais ofensivo. Pochettino também variava para o 4-3-1-2.

O problema do 4-4-2 losango é que não tem extremos. Por isso, os laterais têm de dar largura, mas ao mesmo tempo têm de evitar ficarem expostos ao contra-ataque. No momento ofensivo, o que acontecia várias vezes era não haver nenhuma opção lateral. O Tottenham condensava todo o seu ataque pelo centro do terreno, o que limitava as opções ofensivas.

Neste momento vemos que a bola entra na direita em Son, mas na esquerda não há ninguém a dar largura ou a ser opção de passe. Lucas faz um movimento de rotura no half-space, mas o Tottenham é incapaz de abrir o jogo oferecendo linhas de passe ao jogador encostado ao corredor.

Aqui vemos que Aurier subiu bastante com objetivo de dar largura, mas a linha de passe não foi bem oferecida. Lucas dificilmente consegue colocar aquela bola visto que Aurier tem um defesa à sua frente. No entanto, há muito espaço mais atrás onde Aurier poderia estar colocado. Esse espaço pode ser aproveitado pelo adversário para potenciar o contra-ataque. Se Aurier estivesse mais recuado, conseguiria dar uma largura mais suscetível a ser opção de passe, e estaria melhor posicionado para recuperar defensivamente.

Quando os laterais não recuperam posição, ou não dão largura a atacar, quem tem a função de abrir são os médios laterais. O que pode acontecer é que se crie muito espaço no meio, entre o médio que abriu e o médio ofensivo. Podemos observar isso neste exemplo: Sissoko abre para pressionar, e o adversário destacado tem imenso espaço para receber e progredir com bola.

Neste lance podemos observar a fraca organização defensiva do Tottenham. Kane ajuda Sissoko a defender, mas depois de Doucouré ter conseguido sair da pressão, Rose deixa a lateral descoberta para o pressionar. Doucouré facilmente ultrapassa Rose, e cria uma situação 4v2. A estrutura do meio campo é deficiente a defender, e Rose comete dois erros: a forma como pressiona é facilmente driblada; e deixou a lateral livre para o ataque do Watford.

Neste lance podemos ver a fraqueza da linha defensiva do Tottenham. Após o passe para a lateral, Rose está mais à frente que os restantes membros da linha defensiva. Um dos perigos de ter esta linha desalinhada é que os avançados ficam em jogo. Neste caso, Rose está a colocar Deulofeu e Doucouré em jogo. Do outro lado, nem Aurier nem Alderweireld acompanham a desmarcação de Doucouré, que aparece praticamente sozinho para finalizar facilmente.

Nesta jogada vemos as dificuldades do Tottenham na transição defensiva. Em primeiro, Vertonghen está mal posicionado e deixa-se ultrapassar com facilidade por Deulofeu. Depois Aurier está no centro do terreno sem cobrir o lado direito, onde deveria estar. Winks também não recua para ajudar a defender. O Watford consegue sair rápido e colocar um jogador no centro (onde Winks poderia estar) e outro na esquerda (onde Aurier deveria estar).

Este lance é semelhante. No início o Tottenham tem superioridade numérica a defender. Mas a linha defensiva não está bem alinhada. Aurier está no centro do terreno, mas não está a marcar Gnabry de forma correta. O extremo do Bayern tem muito espaço entre ele e Alderweireld, e consegue explorá-lo, criando uma jogada de perigo.

Problemas internos

Esta época houve uma quebra coletiva no Tottenham. Pochettino admitiu que queria recuperar a agressividade sem bola, mas a equipa não parecia estar motivada. Há várias questões a analisar.

Jogadores como Eriksen, Alderweireld e Rose estiveram para sair, enquanto Vertonghen está em fim de contrato. A motivação de jogadores nucleares como estes não parece ser a mesma. A nível psicológico os jogadores parecem afetados devido a treinos rígidos, poucos dias de descanso, o que leva a um esgotamento também físico. Para além disto, muitos jogadores estão no clube praticamente desde que Pochettino chegou. Não parece que eles estivessem desmotivados com o treinador, mas talvez com o clube, cidade, entre outros.

Houve também algumas divergências entre jogadores e o presidente, Daniel Levy. Depois de em 16/17 terem ficado em segundo lugar, e terem alcançado a final da Liga dos Campeões o ano passado, alguns jogadores pediram aumentos salariais devido ao aumento de qualidade do futebol. Nem todos os pedidos foram correspondidos.

Como Mourinho pode ter sucesso

Como o próprio referiu, o plantel do Tottenham tem bastante qualidade. Mas também tem algumas lacunas. Comecemos pela frente. Kane e Son são as grandes referências ofensivas, e jogadores nucleares. Também há Lucas, extremo rápido e vertiginoso, e Lamela, médio-ala com muita qualidade técnica e capacidade criativa.

No meio campo há Dier e Winks que fazem com qualidade o papel de nº6. Winks tem mais qualidade na distribuição, enquanto Dier tem mais qualidade defensiva. Jogadores como Sissoko e Ndombelé são explosivos, fortes, e têm qualidade ofensiva e defensiva. Lo Celso, Eriksen e Alli destacam-se pelas qualidades ofensivas: técnica, distribuição e visão de jogo. A defesa é talvez o setor mais debilitado do Tottenham. Centrais como Vertonghen, Alderweireld e Sanchez já provaram ter qualidade, mas também já mostraram serem inconsistentes. Os laterais são aqueles que talvez mais preocuparão Mourinho. Aurier, Rose e Davies cometem demasiados erros defensivos e posicionais para estarem ao nível do Tottenham de Mourinho. Na baliza há o lesionado Lloris que, em condições normais, é de classe mundial.

Jogadores como Kane, Eriksen, Alli e Son são estruturais no Tottenham

Mourinho terá de melhorar o nível defensivo do Tottenham. As suas equipas são conhecidas por defenderem com um bloco médio-baixo e com qualidade. No Manchester United isso não foi tão visível, mas os defesas dos Spurs mostram serem superiores aos que Mourinho encontrou em Manchester.

A organização defensiva terá de ser melhor estruturada e mais compacta, assim como deverá ser prestada mais atenção ao alinhamento da linha defensiva. Com o 4-2-3-1 habitual do português, alguns erros de cobertura defensiva poderão ser corrigidos.

Mourinho tem qualidade defensiva, e, ao mesmo tempo, de distribuição de jogo, em médios como Winks e Ndombelé

Mourinho tem em Winks e Ndombelé, médios com qualidades defensivas e, ao mesmo tempo, de distribuição de jogo. Isto beneficiará o seu estilo de contra-ataque, visto que estes são jogadores que conseguem lançar os avançados na velocidade. Em Alli, Lo Celso e Eriksen, Mourinho encontrará médios com a qualidade no último passe e a visão de jogo para servir os atacantes.

Lucas e Son são fortes para o contra-ataque, e rápidos o suficiente para conseguirem recuar para defender, e subir rapidamente na transição ofensiva. Mourinho tem no plantel um dos melhores pontas-de-lança do mundo: Harry Kane. O inglês corresponde na perfeição ao lote de avançados de alta qualidade que Mourinho sempre teve: Eto’o, Ronaldo, Drogba, etc.

Tempo e correções

O plantel do Tottenham é substancialmente superior ao do Manchester de Mourinho. Se conseguir corrigir as debilidades defensivas, tem uma equipa bem capaz de conseguir alcançar o objetivo principal: ganhar títulos. Mas isso não acontecerá do dia para a noite. É preciso dar tempo ao técnico para estabelecer as suas ideias e desenvolver o modelo de jogo pretendido. Vamos ver o que o futuro trará neste regresso a Londres.



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