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Newcastle – O projeto milionário dos Magpies

Nota prévia: todas as estatísticas referidas no artigo aplicam-se até ao jogo frente ao Everton.

Nos últimos tempos, o mundo do futebol ganhou um novo clube magnata: o Newcastle, um dos mais históricos clubes do futebol inglês. A equipa do norte de Inglaterra, também conhecida por “Magpies”, foi fundada em 1892 e tem no seu palmarés quatro Premier Leagues, seis Taças de Inglaterra, uma Supertaça Inglesa e uma Taça Intertoto.

Apesar da última conquista da Premier League remontar a 1927 e dos últimos anos terem sido bastante conturbados, o Newcastle continua a ser um dos grandes clubes de Inglaterra e tem uma das maiores massas associativas do país.

Nos últimos anos, o clube vinha a ser gerido por Mike Ashley, mas o multi-milionário inglês nunca conseguiu estabelecer um projeto sustentado e a ligação com os adeptos vinha a deteriorar-se cada vez mais. Já no decorrer desta temporada, um consórcio liderado pelo “Public Investement Fund”, controlado pelo governo da Arábia Saudita, adquiriu o Newcastle por valores a rondar os 350M€, e tem como objetivo desportivo colocar os “Geordies” novamente no topo do futebol inglês.

A expectativa é enorme, mas como em tudo, todos os passos têm de ser bem medidos e o projeto tem de ser muito bem delineado. Segue-se então uma explicação e uma análise de todo o departamento de futebol do Newcastle.

Os Diretores

A ligação entre o clube e os donos sauditas é feita por Amanda Staveley, que, ao que tudo indica, escolheu Dan Ashworth como diretor desportivo, um dos principais responsáveis pelo sucesso recente do Brighton (ainda nenhuma fonte oficial o confirmou).

Dan assumiu o cargo de Diretor Técnico dos “Seagulls” no início de 2019, ano no qual o Brighton garantiu a manutenção por apenas dois pontos, com Chris Hughton a treinador. Na temporada seguinte, Graham Potter foi apontado como treinador e foram contratados, por exemplo, Neal Maupay, Leandro Trossard e Tariq Lamptey.

Nessa temporada e na seguinte, o Brighton conseguiu, respetivamente, um 15º e um 16º lugar, e em 21/22 é neste momento 13º classificado, e encaminha-se para fazer a melhor temporada desde que subiu à Premier League e uma das melhores da história do clube.

É certo que Dan Ashworth não foi o responsável pela subida do Brighton, mas foi um dos líderes da grande evolução dos “Seagulls” nos últimos três anos, que se estabeleceu na Premier com um projeto sustentado e com futuro.

O Treinador

Era sabido por todos que, mais cedo ou mais tarde, Steve Bruce iria sair do comando do Newcastle e iria ser apontado outro treinador para liderar os primeiros passos do projeto dos Magpies, algo que se confirmou, uma vez que o técnico inglês apenas comandou uma vez a equipa depois da entrada do consórcio saudita.

O treinador escolhido para liderar o projeto foi Eddie Howe, o responsável pelo enorme crescimento do Bournemouth. Na sua primeira passagem pelo clube, entre o final de 2008 e o início de 2011, o técnico subiu o clube da League Two – 4ª Divisão à League One – 3ª Divisão. Sucederam-se quase dois anos no Burnley, até regressar ao clube onde também jogou.

Na segunda passagem pelo “Cherries”, Eddie Howe subiu o clube da League One para o Championship e do Championship para a Premier League. Nos 5 anos no principal escalão do futebol ingês, o Bournemouth, com Howe no comando, conseguiu várias boas temporadas, entre elas um 9º lugar, mas desceu em 19/20, o que culminou na saída do técnico inglês.

Agora no Newcastle, depois de um início difícil, Eddie Howe conseguiu tirar o clube da zona de despromoção, com uma série de nove jogos sem perder para o campeonato que terminou no último jogo frente ao Chelsea. O gráfico seguinte mostra-nos então a evolução da posição do Newcastle na tabela com o avançar dos jogos (para uma melhor leitura do gráfico – o primeiro jogo de Eddie Howe foi na 12ª jornada, e os valores da posição devem ser lidos pela coluna do lado esquerdo e os valores dos pontos pela coluna do lado direito.).

O gráfico traduz perfeitamente o que foi referido. O início de Eddie Howe no Newcastle foi difícil, mas logo no terceiro jogo do técnico os Magpies conquistaram a primeira vitória, e depois de um período mais negativo entre a 16ª e a 21ª Jornada, a equipa subiu de forma exponencialmente e conquistou 21 pontos nos últimos 10 jogos.

Fonte: FlashScore

O Plantel

Os novos donos sauditas herdaram um plantel qualitativamente bem abaixo da média da Premier League, com muitos jogadores para lá dos seus melhores anos e com jogadores que dificilmente devem ficar na equipa.

Deste modo, vamos então olhar como se distribuem os jogadores consoante a idade e os minutos jogados, através o seguinte gráfico, no qual se encontra destacado um intervalo entre os 25 e os 29 anos, que é considerado, por regra geral, os melhores anos de um jogador – “peak years”. Os minutos jogados estão representados pelo tamanho do ponto de cada jogador – quanto maior o círculo, maior o tempo de jogo.

O gráfico mostra-nos que mesmo havendo um razoável número de jogadores dentro dos “peak years” há um elevado número de jogadores para lá dos seus melhores anos comparativamente a jogadores dentro ou abaixo desse intervalo.

A verdade é que os Magpies contrataram no mercado de inverno dois jogadores que se encontram nesse grupo (Kieran Trippier e Chris Wood), que são importantes, uma vez que trazem experiência e rendimento imediato, e que acabam por entrar neste grupo, mas na próxima janela de transferências o Newcastle deve então procurar diminuir o número de jogadores com 30 ou mais anos (são 12 neste momento) e reforçar-se com jogadores mais jovens e na iminência de entrar nos melhores anos – Bruno Guimarães por exemplo.

Por fim, destaque para Fabian Schär (30 anos), Paul Dummet (30 anos) e Sean Longstaff (24 anos), que terminam contrato no final da presente temporada e ainda não há notícias acerca da eventualidade de renovarem contrato.

Análise do Mercado de Inverno e Projeção do Mercado de Verão

A esperança do Newcastle para se manter na Premier residia no mercado de transferências de inverno, que foi a primeira oportunidade do clube para reforçar o plantel depois da entrada dos sauditas.

Os Magpies evitaram um esbanjamento de dinheiro, e a verdade é fizeram contratações assertivas e muito importantes para o principal objetivo que se avizinha: evitar a despromoção, garantindo um grupo de jogadores experientes e que pode ser uma forte base para o projeto do Newcastle:

  • Dan Burn (empréstimo com compra obrigatória de 15M€) e Matt Target (apenas empréstimo) são dois jogadores com experiência no futebol inglês e, apesar de não serem “material” de top-8 ou top-10 da Premier, são dois jogadores muito competentes e que cobrem graves lacunas que haviam no plantel.
  • Segue-se Kevin Trippier, contratado por 15M€ (valor que pode eventualmente subir mediante certos objetivos) e que é indiscutivelmente uma excelente contratação. O jogador internacional inglês é um lateral direito de enorme qualidade, teve um impacto imediato no Newcastle com 2 golos em 4 jogos até à infeliz lesão, e traz qualidade, experiência e “pedigree” internacional.
  • Chris Wood é mais um jogador bem conhecido dos adeptos britânicos e já habituado à Premier League. Os 30M€ pagos pelo jogador são um valor discutível, e apesar de se perceber o porquê dos valores pedidos (um misto entre qualidade, experiência de futebol inglês e o facto do Burnley ser um rival direto do Newcastle), e a verdade é que é improvável que daqui a 3 ou 4 anos o avançado neo-zelandês seja relembrado como figura importante no clube e que ainda seja uma presença habitual no onze. Ainda assim, é um jogador experiente e conhecedor do futebol de Premier, é muito forte num futebol mais direto,e apesar do rendimento esta temporada ser menos bom, marcou sempre 10 ou mais golos por temporada no futebol inglês (total de 50 golos em 159 jogos) numa equipa da metade de baixo da tabela e com pouco volume ofensivo. No fundo, cobre uma posição muito importante e evita que o Newcastle “corra” para contratar um avançado de topo, o que pode levar a escolhas menos assertivas.
  • Por fim, resta Bruno Guimarães. O médio brasileiro foi a contratação mais sonante e mais cara do mercado de inverno do Newcastle. É um jogador que se destaca pela qualidade de passe que aporta para o jogo, é muito forte a quebrar linhas e criar oportunidades. É certo que ainda terá de se adaptar ao futebol inglês, mas é um jogador prestes a entrar nos “peak years” e que tem potencial para ser uma das bases do meio-campo do Newcastle durante vários anos.

Posto isto, vamos então ver o onze que Eddie Howe apresentou nos primeiros jogos, e o onze dos Magpies agora, num cenário sem lesões e com todos os jogadores preparados para serem titulares, no 4-3-3 no qual a equipa tem jogado.

Este onze ainda não foi apresentado em nenhum jogo por Eddie Howe, resultado das lesões (Trippier) e tempo de adaptação (Bruno Guimarães), mas é indiscutível que há uma grande melhoria, que se reflete nos resultados, e é agora um onze com capacidade para evitar a despromoção.

Ainda existem várias lacunas, e vários daqueles jogadores não irão ficar por muito mais tempo no Newcastle, mas é um plantel com qualidade para se manter na Premier League esta temporada, e que certamente irá ser bem reforçado no mercado de verão, com o objetivo de almejar maiores objetivos.

Deste modo, no verão o foco do Newcastle deve passar por um defesa central, posição prioritária, um lateral esquerdo caso Targett não permaneça no clube, um médio com características mais defensivas e potencialmente um extremo.

Antes de avançar, deixamos aqui o link de um artigo publicado no nosso blog aquando da entrada dos magnatas sauditas no Newcastle, no qual apontamos alguns jogadores que seriam bons reforços e podiam ser as grandes figuras do projeto dos Magpies.

As exibições

Tudo isto anteriormente analisado, desde diretores, treinadores e contratações, espelha-se no campo, e aqui temos de olhar, de forma muito superficial, para dois aspetos:

  1. Os resultados, que são importantes principalmente a curto-prazo, é o que permite ao clube evitar a despromoção esta temporada, e é através dos quais o clube vai ser julgado pelos adeptos e pelos mídia;
  2. As exibições, que nos permitem perceber se as vitórias são sustentáveis a longo prazo, ou se um período de derrotas se pode transformar em vitórias, e permite-nos também projetar o futuro da equipa.

O primeiro ponto já foi abordado na análise do treinador Eddie Howe, e, portanto, o foco vai para o segundo ponto.

Como foi apresentado nos onzes mostrados em cima, a equipa tem atuado num 4-3-3, ou até num 4-1-4-1, tem apresentado um futebol positivo, com um maior volume ofensivo e mais coesão defensiva, e um dos maiores destaques é a adaptação de Joelinton, que passou de avançado para médio em pouco tempo, e com muito sucesso.

Utilizando a estatística, podemos fazer uma melhor comparação entre a “era Steve Bruce” e a “era Eddie Howe”. Seguem-se então dois radares, um relativo ao momento ofensivo e outro ao momento defensivo, cujos valores mínimos e máximos foram definidos pelos valores do campeonato. Os radares referentes aos jogos com Eddie Howe são representados a azul, e os radares referentes aos jogos com Steve Bruce são representados a vermelho.

Começando pelo processo ofensivo, foram escolhidos 10 parâmetros que podem espelhar as exibições do Newcastle (apenas o “Expected points” é mais abrangente e referente aos dois momentos).

A melhoria do Newcastle no processo ofensivo é clara, mas ainda assim o clube encontra-se mal posicionado em grande parte dos parâmetros. Os valores de golos, xG e remates são baixos, os quais estão associados aos também baixos números de entrada no último terço e área adversária, mas ainda assim, quer através da estatística quer através do jogo, a melhoria é visível, o que é um indicador muito positivo.

Nota positiva para os duelos, um valor que já era alto mas que também subiu com Eddie Howe, e destaque final para os expected Points, calculado através do xG a favor e contra, e que nos mostra que os Magpies melhoraram consideravelmente de rendimento.

Olhando agora para o processo defensivo, observemos o seguinte radar:

Aqui a melhoria é ainda mais clara. O número de golos sofrido desceu consideravelmente. A equipa regista um maior número de recuperações de bola no meio-campo adversário e o valor de PPDA (“Passes per defensive actions”) também descou, que é neste caso um bom indicativo – o Newcastle permite ao adversário menos passes até registar uma ação defensiva.

No entanto, é curioso que a eficácia das ações defensivas tenha baixado (duelos defensivos, duelos aéreos e cortes), mas no geral o número de ações defensivas ganhas subiu. A coesão defensiva, espelhada principalmente pela redução do número de golos e do xG concedido é clara, e é mais uma vez um indicador bastante positivo, e que mostra a clara subida de rendimento do Magpies para lá dos resultados.

Conclusão

A entrada dos donos sauditas no clube foi recebida com enorme expectativa pelos adeptos, que desejam ver o Newcastle novamente no topo do futebol inglês.

Ainda assim, com as regulações que atualmente existem, nomeadamente o Fair Play Financeiro da UEFA, o Newcastle terá que medir bem todos os passos, para garantir um crescimento sustentado e com futuro, muito à imagem do projeto do Manchester City.

Por enquanto, o principal objetivo a curto-prazo passa por garantir a manutenção, algo que está a ser bem conseguido sobre o comando de Eddie Howe e com ajuda das contratações de inverno – Burn, Targett, Trippier, Bruno Guimarães e Wood, e que é essencial para não atrasar todo o processo de crescimento.

Por fim, o consórcio saudita tem um projeto ambicioso para o Newcastle, que visa colocar o clube na luta pelos títulos num futuro próximo e devolver os “Geordies” aos grandes palcos internacionais.

Golos do Newcastle nos últimos jogos



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