O desafio não será certamente fácil, pois o seu antecessor conseguiu muito mais que apenas a conquista de títulos, ainda conseguiu deixar a sua própria marca em Inglaterra, pois muito mais que números, conseguiu sedimentar o seu modelo de jogo assente num sistema tático de 3 centrais sempre muito complicado de contrariar, e como que “obrigou” a grande maioria dos clubes ingleses a adotar este esquema também para si, uns certamente por admiração daquela forma de jogar que viam em execução em Stamford Bridge, outros como forma de adaptação a este modelo, dado que a grande maioria das equipas passaram a jogar em esquemas semelhantes de 3 centrais havendo a necessidade imperial de “espalhar as peças no terreno de jogo” de forma idêntica para não haver surpresas, nem desequilíbrios e aqui falamos mais concretamente de rivais de topo como o City de Guardiola, o United de Mourinho e o Arsenal de Arsène Wenger, algo extremamente complicado de se conseguir portanto.
Uma época passou após essa fase e a supremacia absoluta do modelo de jogo de Guardiola que culminou com a conquista do campeonato inglês na época passada e com o recorde de 100 pontos e 106 golos marcados e perante o 5 lugar da equipa dos “Blues”, levaram Abramovich a ter de repensar no futebol do clube e a optar pela escolha de um novo “comandante”. Essa seleção recaiu no Ex Napolitano Sarri, talvez pelo modelo de jogo mais atrativo esteticamente falando, mais ofensivo e assente numa boa circulação e posse de bola, mais ao nível dos princípios de jogo dos “citizens”.
Pois bem, duas jornadas da Premier League passaram, 6 pontos somados frente ao Huddersfield e Arsenal e há a necessidade de se fazer uma primeira análise a este Chelsea 2018-2019.
No “onze” já se notam algumas diferenças para as últimas épocas, começando desde logo pela baliza, onde surge agora o ainda jovem Kepa, substituto de Courtois (transferido para o Real Madrid a troco de 35 milhões de euros). Logo aqui, se notará uma baixa de peso, não por falta de qualidade do jovem espanhol, até pelo contrário, poderá vir a ter um futuro muito promissor pela frente, mas antes pela substituição de um dos melhores guarda-redes do mundo na atualidade, e que apesar dos seus 26 anos atribuía à equipa uma enorme experiência e segurança lá atrás. Internacional belga por 69 vezes, eleito o melhor guarda-redes do último mundial realizado na Rússia, muito alto (2 metros de altura), muito forte nas saídas a cruzamentos e domínio do jogo aéreo, com enormes reflexos e elasticidade entre postes. Uma venda muito abaixo do real valor do Belga, com uma entrada inflacionada por 80 milhões, batendo assim a cláusula de rescisão deste jovem basco que ainda estará muito longe do seu real valor de mercado (avaliado por volta dos 10 milhões de euros), tornando-o ainda na maior transferência de um guarda-redes de sempre.
Resumindo, os “ blues” vendem assim um “jogador feito” por 35 milhões (muito abaixo do valor de um, senão mesmo o melhor guarda-redes da atualidade) e gastam 80 milhões no que acreditam ser o jogador de futuro nessa posição, havendo aqui uma enorme discrepância de valores e ficando claramente com um saldo negativo no conjunto dos dois negócios.
O que poderá dar Arriazabalaga à “baliza blue”? Após visualização dos 2 jogos conclui-se que acima de tudo um bom jogo com os pés, onde este sente-se confortável com bola e a própria equipa sente-se confortável em incluí-lo na sua 1 fase de construção de jogo, solicitando-o imensas vezes com passes atrasados, algo que vem ao encontro da nova filosofia que o treinador quer incutir, e que na minha análise será o fator mais importante para esta contratação.
Ainda é um guarda-redes rápido nas saídas da baliza e área sendo capaz de controlar muito bem a profundidade, algo que em equipas que privilegiam o jogar com defesas subidas, como certamente será o caso deste novo Chelsea, terá uma utilidade tremenda.
Outra característica importante será a calma, tranquilidade e alguma maturidade já evidenciada para um jogador de apenas 23 anos e nessa posição tão caraterística, onde a segurança será tudo para a equipa. Assim sendo, acredito que os responsáveis máximos do clube tenham sentido que essa característica poderá ter sido um “garantia” de que o jogador não sentiria o peso da substituição de Courtois, nem o facto de ser a transferência mais cara de um guarda-redes na história do futebol (algo que com os milhões que se gastam hoje em dia não demorará muito a ser batido certamente).
Ainda será um “portero” com bons reflexos e elasticidade entre os postes e com uma enorme margem de progressão no futebol mundial, um pouco à imagem também do seu antecessor.
Falamos de seguida do titular Jorginho, contratação vinda do Nápoles e com a “chancela” do seu técnico, claramente um dos seus jogadores preferidos e consequentemente mais utilizados nas últimas épocas pelo treinador transalpino.
Esta aposta e um pouco a par do que acontece na baliza com Kepa, vem sobretudo para “alimentar” os princípios de jogo que o novo treinador quer potenciar no clube, e onde este jogador naturalizado italiano vem “cair que nem uma luva”, pois fugindo daquilo que será um trinco tradicional, possui um ótimo posicionamento em campo, oferecendo inúmeras linhas de passe ofensivas à equipa, participando imenso na 1 fase de construção da equipa, bem como também terá a capacidade técnica e de visão de jogo para se incluir ainda na 2 fase de criação de jogo já no último terço do terreno adversário, isto tudo sem descurar a vertente defensiva, pois é um jogador muito evoluído taticamente (muito fruto do que bebeu na escola tática italiana) sabendo exatamente os espaços a ocupar para puder ajudar a equipa defensivamente falando.
Na minha análise, esta nova contratação permite ainda o “libertar” de Kanté para posições que serão mais as suas, dado que as suas características de elevados índices de resistência física, velocidade e transporte de bola e capacidade de pressão agressiva defensiva, permitem que este atue em zonas mais avançadas no terreno (mais como número 8), possa recuperar bolas em terrenos adversários permitindo que a equipa pressione com mais qualidade em zonas mais altas, tendo um jogador capaz de realizar transições ataque-defesa rapidíssimas e permita que a equipa recupere rapidamente nesse momento de jogo, sem desorganizar a equipa defensivamente, sobretudo útil frente a adversários que consigam sair desde trás, mesmo perante fortes pressões e/ou sendo fortes nos “contra-golpes”.
Há ainda a contratação do “suplente Galáctico” Kovacic, um jogador oriundo do Real Madrid, mas com uma qualidade inegável e que pode dar muito a esta equipa do Chelsea. É um jogador aguerrido, bom no desarme, forte na pressão, inteligente do ponto de vista tático, boa qualidade de passe, e capaz de dar maior intensidade à equipa. Tem a capacidade, um pouco idêntico a Kanté, de “esticar” o jogo através de arrancadas rápidas com bola, conseguindo através deste transporte de bola em velocidade, de “queimar linhas” em progressão.
Após falar e analisar as contratações que tiveram nestes jogos entradas na equipa titular, vamos agora analisar o modelo e princípios de jogo propriamente ditos. Logo aqui, há uma “rutura” com o modelo algo defensivo de António Conte que assentava num 3-4-3 atacar e 5-4-1 a defender, jogando com linhas muito recuadas, esperando de forma organizada e paciente pelo recuperar da bola, e depois com uma grande capacidade de explorar contra-ataques rapidíssimos e letais, sobretudo protagonizados pelas incursões individuais dos seus extremos de grande capacidade técnica como Hazard, Pedro ou Willian, a quem eram dados alguma liberdade de movimentos.
Créditos da imagem : O Globo
Agora com Maurizio Sarri há uma vontade clara de puder romper com esse paradigma e ideias, desde logo no sistema tático, o qual voltou a recuperar a defesa formada por 4 elementos, espalhando as unidades num sistema de 4-3-3.
Existe organização no processo defensivo, procura-se sobretudo realizar uma pressão alta, algo que ainda terá de melhorar talvez por a equipa ainda se encontrar algo “presa” ao sistema tático anterior que privilegiava dar o comando do jogo ao adversário, recuando linhas, procurando cortar linhas de passe para depois em posse de bola explorar os espaços livres deixados pelo adversário e saindo em transições defesa-ataque vertiginosas. Denota-se que a equipa ainda se sente confortável no processo defensivo a frente da sua grande área, posicionando-se corretamente, defendendo com linhas bem juntas e compactas retirando espaços aos adversários, isto apesar de ainda se verificar alguma demora da linha defensiva em subir rapidamente (encurtando e juntando mais á linha de médios) perante o recuo do adversário aquando de passes atrasados. Aquando da tentativa de uma pressão mais alta, falta ainda alguma agressividade sobre o portador da bola, e o adversário ainda consegue sair a jogar por vezes com relativa facilidade
Algo preocupante e que se denota bastante no processo defensivo, sobretudo se analisarmos a competição onde estão inseridos, onde o jogo aéreo e futebol mais direto e físico é uma constante em grande parte dos jogos, será alguma incapacidade no jogo aéreo que a equipa ao momento evidencia, devido ás características físicas de alguns jogadores do sector (baixa estatura), excetuando aqui os casos do Rudiger e Alonso talvez.
O ataque às primeiras e segundas bolas e mesmo a defesa zonal que realizam nas bolas paradas, mostra que o adversário em grande parte das vezes leva vantagem no jogo aéreo e a equipa londrina sente imensas dificuldades em controlar.
Ainda no processo defensivo, e mais evidenciado no jogo frente ao Arsenal quando o adversário ganha a linha de fundo com jogadas vindas do flanco e com passe para trás, conclui-se que há um mau posicionamento dentro de área promovidos pelos jogadores de Stamford Bridge, sobretudo no não ocupar da posição da “marca de penalty” e respetiva falta de marcação ao homem que lá aparece para finalizar.
Para finalizar uma análise ao processo defensivo da equipa, não poderíamos deixar de mencionar o facto de o lateral esquerdo Alonso ser deixado inúmeras vezes em situações de 1×1, tal não acontece no lado contrário com Azpilicueta devido à útil ajuda defensiva do extremo trabalhador Pedro e das boas e rápidas coberturas e dobras do Central Rudiger, algo que no lado oposto não se verifica, já que Willian é um extremo com pouca vocação defensiva, existindo as coberturas do trinco Jorginho, mas demasiado distantes do lateral.
Há no entanto algo da “era de Conte” que o novo timoneiro tenta manter, talvez como ato de inteligência por ter analisado ser um ponto forte e fulcral que são as fortes diagonais com bola dos seu extremos que a transportam em velocidade pelo corredor central, perante desmarcações do AC e extremo contrário (espaços entre lateral-central adversário), finalizando com um último passe que os deixa na “cara” do guarda-redes adversário, ou ao invés disso partir eles próprios para penetrações na área com bola controlada, procurando a finalização.
Outra dos princípios de jogo ofensivo na 2 fase de criação, o que baralha imenso marcações e fomenta o jogo interior da equipa, é o aparecimento na posição de médio ofensivo (número 10) de Willian ou o próprio Hazard, quase que desenhando momentaneamente um “losango”. Além de promover o jogo interior, dá á equipa uma capacidade enorme no último passe e ainda ao descair para o flanco contrário oferecendo coberturas ofensivas, cria situações de superioridade numérica nas faixas.
Conhecendo o estilo de jogo de posse que assenta os princípios de jogo de Sarri, verifica-se que a equipa procura desde esta fase tão prematura da época, ter alguma paciência na circulação e elaborar um jogo mais pensado desde trás, logo desde a sua 1 fase de construção de jogo, até tendo jogadores com características para ter qualidade nesta forma de jogar como David Luiz (exímio a sair a jogar com qualidade), Rudiger, Jorginho, mesmo os laterais Alonso e Azpilicueta têm qualidade para tal.
No entanto, curiosamente o que se verifica nesta adaptação a este tipo de jogo, são inúmeras perdas de bola na 1ª fase de construção de jogo (principalmente frente ao Huddersfield), algumas delas em zonas perigosíssimas ainda com a equipa realizar “ campo grande”, posicionada à largura para puder ter espaço para atacar, e várias perdas de bola nessas alturas são completamente desaconselháveis. Contudo, isto será algo natural nesta fase precoce e que será facilmente corrigível e adaptável com o avançar da época, até como já falado anteriormente, devido ás características dos seus jogadores
Verifica-se ainda um aproveitamento da capacidade de jogo exterior principalmente na conexão lateral – extremo, especialmente no derby frente ao Arsenal, dado que tanto Azpilicueta, como Alonso são laterais que podem desequilibrar muito do ponto de vista ofensivo, sobem muito e bem, tirando cruzamentos com qualidade, denotando-se todavia, uma certa insistência em demasia no jogo interior (até com alguma insistência dos seus extremos em diagonais com bola para zonas centrais), quando o aconselhável será haver um aproveitamento também dos “overlaps” dos seus laterais, além de retirar a bola de zonas de pressão poderiam aproveitar melhor cruzamentos para zonas de finalização, ainda consegue-se dar maior imprevisibilidade ao jogo ofensivo, alternando mais vezes jogo interior com jogo exterior.
Esta característica dos laterais ofensivos do Chelsea, pode ainda surtir maior efeito com a inclusão na equipa do ponta de lança de área Giroud, um jogador muito forte fisicamente, bom jogo aéreo, bom posicionamento dentro de área que pode aproveitar os cruzamentos tensos vindo das laterais, o que em jogos contra equipas mais fechadas e a precisar de recorrer a um jogo mais pragmático e direto poderá ser uma mais-valia e constituir uma espécie de “plano B”.
Ainda há um claro aproveitamento do explorar das “costas” das defesas contrárias, com passes de rutura, alguns deles longos realizados muitas vezes por centrais ou laterais ou até o médio Jorginho, para tentar explorar as desmarcações dos seus extremos e do Ponta de lança Morata que é exímio neste tipo de movimentações em velocidade, ou então aproveitando as desmarcações de rutura em velocidade, vindas de trás de um dos médios (Barkley ou Kanté).
Finalizando, será uma equipa ainda em construção, procurando ainda crescer com o desenrolar da época e apreender as novas ideais do seu novo treinador e com um plantel onde foram realizadas poucas contratações mas que quase todas elas vieram para acrescentar valor e soluções a um já plantel recheado de opções, onde a grande aposta será na manutenção da sua maior “estrela” Hazard que após muito se falar numa hipotética venda aos espanhóis do Real Madrid, parece estar de pedra e cal na equipa e que dota a equipa de maiores mudanças de velocidade, imprevisibilidade e técnica.
A questão que ficará no ar é se esta nova filosofia de jogo será suficiente para puder conquistar o campeonato mais competitivo do mundo e se conseguirão retirar a hegemonia que o Manchester City parece evidenciar até ao momento por terras de sua majestade.[:]
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