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Olympique Marselha – Como joga a equipa de Jorge Sampaoli

Depois da época dourada no início dos anos 90, tanto a nível interno como a nível continental, o esquema de corrupção do Marselha trouxe graves consequências ao gigante francês, que se viu despromovido ao segundo escalão na secretaria. O clube teve alguns anos mais desaparecido e voltou ao top-3 do campeonato francês apenas na temporada 98-99.

Ainda assim, o clube de sul de França só voltou a ser campeão em 2009-2010 com um outrora jovem treinador chamado Didier Deschamps. Após esse título, o clube voltou a um período menos positivo que se vinha acentuando nos últimos anos.

Resultado desse mau momento, o dono do Marselha anunciou a 26 de fevereiro no mesmo comunicado mudanças radicais no clube. Pablo Longoría foi nomeado presidente do conselho de administração e Jorge Sampaoli foi o treinador nomeado para substituir André Villas-Boas e para liderar o processo de reestruturação do gigante francês.

Segue-se assim uma análise ao que já mostrou o Marselha na temporada 21-22 e o que pode vir a mostrar.

A escolha Sampaoli

Jorge Sampaoli é um dos treinadores mais carismáticos a nível mundial. Com passagens pela seleção nacional do Chile e Argentina, Sevilla, Santos e Atlético Mineiro, o treinador argentino de 61 anos nunca teve uma passagem totalmente consensual nas equipas onde treinou, mas deixa sempre a sua marca dentro e fora do campo.

Ainda que a sua escolha possa ser contestada, Sampaoli casa perfeitamente com a cultura do Marselha e dos seus adeptos, algo que já se tornou óbvio nos jogos já realizados.

Assim, caso consiga unir os adeptos à equipa e à administração, Jorge já conseguiu um dos objetivos, e talvez o mais difícil. Este principal objetivo parece estar a ser cumprido e, depois de uns meses conturbados, inclusive com uma invasão à academia do clube, o Marselha vive agora um momento mais calmo e de mais harmonia.

Dentro de campo, o Marselha começou o campeonato francês com uma vitória fora por 3-2 contra o Montpellier depois de uma reviravolta incrível, com um empate em casa contra o Bordéus por 2-2, depois de ter estado a ganhar 2-0 e mais recentemente, num jogo caótico que terminou aos 70 minutos, o “OM” perdeu por 1-0 frente ao Nice, mas pode enfrentar uma derrota por 3-0 na secretaria.

Relativamente ao período que Sampaoli realizou ao comando do Marselha ainda relativo à temporada 20-21, o treinador argentino dirigiu 11 jogos, dos quais ganhou 6, empatou 3 e perdeu 2, um registo que nem é muito positivo nem muito negativo, mas que acima de tudo permitiu ao Marselha garantir o futebol europeu, a Liga Europa, e permitiu também a transição para a temporada 21-22.

O onze de Sampaoli

Jorge Sampaoli no início da sua carreira em Marselha tem optado por uma formação algo diferente e pouco vista, que para o espectador comum é bastante entusiasmante.

Antes de olhar para a tática, padrões e dinâmicas, é importante ter uma perceção do perfil da equipa e em específico de cada jogador, pois é algo que muito interfere no modelo de jogo da equipa. Segue-se assim pequenas indicações relativas a cada um dos jogadores que têm assumido a titularidade no conjunto marselhês.

Steve Mandanda – o veterano guarda-redes francês é um dos jogadores com mais épocas realizadas ao serviço do Marselha e é o mais veterano jogador do plantel. Aos 36 anos, ainda assume a titularidade e é dos únicos jogadores, a par com Payet, a passar os 30 anos. Mandanda é o capitão e responsável por conferir segurança à linha defensiva e à equipa no geral.

William Saliba – rotulado como jovem promessa, Saliba chegou ao Arsenal, proveniente do Saint-Éttiene, a troco de 30M€, no verão de 2019. Nunca foi aposta de Mikel Arteta e depois de uns meses sem jogar futebol sénior, foi emprestado ao Nice, onde realizou a 2ª metade da época 20/21. Esta temporada, William volta a ser emprestado, desta vez ao Marselha, para uma liga que bem conhece e onde terá oportunidade para crescer e se afirmar. Aos 20 anos, Saliba é uma das principais escolhas para o eixo central da defesa da equipa de Sampaoli. Quer no momento ofensivo quer no momento defensivo, joga como central pela direita, ora num sistema a 3 centrais, ora num sistema a 2.

Leonardo Balerdi – o jovem argentino de 22 anos chegou do Boca Juniors para o Dortmund em janeiro de 2019. Chegou a fazer alguns jogos pela equipa principal do clube alemão, como central e também como médio defensivo, mas não convenceu e foi emprestado ao Marselha no início da temporada 20/21. Para o início da atual época, o contrato de empréstimo foi tornado definitivo, a troco de 11M€. Balerdi é um jogador versátil, muito forte com bola e defensivamente muito forte também. Nos jogos já realizados, jogou como central nos dois principais momentos de jogo. Foi expulso com vermelho direto no jogo frente ao Bordéus e por isso não foi opção no 3ª jogo oficial da temporada, contra o Nice.

Luan Peres – nascido em 1994, Luan chegou à Europa em 2018 para o Club Brugge. A sua passagem pela Bélgica não foi bem sucedida e o central brasileiro voltou ao Brasil por empréstimo para representar o Santos, onde chegou a ser treinado por Sampaoli, tendo jogado 9 partidas sob o seu comando. Depois de ter terminado o contrato de empréstimo, o “Peixe” adquiriu o defesa a título definitivo. Poucos meses depois, Luan Peres transferiu-se para o Marselha. O defesa brasileiro é canhoto e, no momento defensivo atua como lateral esquerdo, enquanto que no momento ofensivo atua como defesa central pela esquerda. Luan tem se apresentado a bom nível, é forte com bola e defensivamente tem mostrado qualidade.

Boubacar Kamara – o jovem jogador com 21 anos tem sido nos últimos anos uma das principais figuras do clube francês. É muito polivalente, pode jogar como defesa central, lateral direito e médio defensivo, como tem acontecido nesta temporada. No momento ofensivo, Boubacar junta-se a Pape Gueye e funciona como “6”. Já no momento defensivo, recua e joga à direita de Saliba como lateral direito.

Pape Gueye – comparativamente a Kamara, Gueye não interfere tanto nas dinâmicas gerais da sua equipa, mas é um jogador bastante importante e a principal peça do meio-campo. Gueye tem 22 anos, é francês e chegou ao Marselha em 2020 do Le Havre. Nos dois jogos realizados pelo Marselha na atual temporada, Pape no momento defensivo é o médio mais recuado, e no momento ofensivo joga junto a Kamara num duplo-pivot. Resultado do perfil de Gerson e Guendouzi, Pape Gueye tem um papel bastante importante no processo defensivo e é o principal elemento a conferir equilíbrio ao meio-campo da equipa de Sampaoli.

Matteo Guendouzi – o controverso médio francês de 22 anos chegou emprestado do Arsenal para a atual temporada. Matteo é um médio centro e tem atuado nessa posição nos jogos já realizados. Guendouzi é um jogador com enorme talento, apareceu muito bem no Arsenal, mas não conseguiu manter a regularidade e é emprestado pela 2ª vez consecutiva. No momento sem bola da sua equipa, Guendouzi é o interior direito do 4-1-4-1 do Marselha. Com bola, em conjunto com Gerson, junta-se a Payet e ocupa espaços avançados e entre-linhas. Tem uma personalidade forte, fora e dentro de campo, e casa perfeitamente com Sampaoli e com os adpetos do Marselha.

Gerson – depois de uma passagem fracassada pela Europa entre 2016 e 2019, o médio brasileiro de 24 anos volta agora às principais ligas europeias. Gerson foi resgatado ao Flamengo por 25M€, depois de 2 anos com um rendimento bastante positivo. À semelhança de Guendouzi, Gerson funciona como interior no processo defensivo, enquanto que com bola junta-se a Payet e ocupa zonas mais avançadas. O médio brasileiro é responsável por ocupar o espaço entre-linhas e fixar a linha defensiva, abrindo espaços para os colegas. Tem um papel muito importante sem bola e tem demonstrado bastante inteligência a abrir espaços para outros.

Konrad de la Fuente – nascido na Florida e formado no Barcelona, Konrad chega ao Marselha aos 20 anos e é uma das principais apostas para o futuro do clube francês. O jovem americano é um extremo muito irreverente, muito rápido e com um drible muito forte, que tem atuado como ala/extremo esquerdo no onze do Marselha.

Cengiz Ünder – o extremo turco de 24 anos, chega ao Marselha emprestado pela Roma de Mourinho. Ünder tem um perfil semelhante a Konrad e um papel praticamente igual nesta equipa do Marselha. É um dos principais desequilibrados da sua equipa e já apontou 2 golos na atual temporada.

Dimitri Payet – aos 34 anos, o incontornável Payet é a principal figura do “OM”. Dimitri é um médio ofensivo que tem atuado como falso nove no sistema do Marselha. É um jogador com uma qualidade enorme, tecnicamente muito evoluído e com uma capacidade de criação e também de produção muito forte. É uma figura muito contestante e com uma personalidade forte, pelo que, à semelhança de Guendouzi, encaixa perfeitamente com Sampaoli e com a cultura da claque marselhesa.

Em suma, o onze do Marselha é dotado de muita qualidade, ainda que muitos dos jogadores ainda estejam “em bruto” e precisem de ser trabalhados.

No entanto, existe um claro problema de profundidade pois, tirando o onze aqui apresentado sobra Duje Caleta-Car e Álvaro González para o eixo central da defesa, Jordan Amavi e Pol Lirola são opções para as alas, sendo que é bastante provável que o recente reforço assuma a titularidade. Rongier é a única solução para o meio-campo e Luís Henrique e Arkadiusz Milik (lesionado) são as únicas soluções para o ataque, uma vez que Dario Benedetto saiu para o Elche e Nemanja Radonjić saiu para o Benfica.

Em termos de rumores de transferências, Giovanni Simeone, filho de “El Cholo” Diego Simeone, um avançado centro de 26 anos. Iké Ugbo, avançado de 22 anos ex-Chelsea, era muito falado para reforçar o Marselha mas rumou à Béligca, para representar o Genk. Numa das últimas conferências de imprensa, Jorge Sampaoli afirmou que ainda faltam “4 ou 5” reforços, mas que têm de ser definidas prioridades nas contratações. Assim, espera-se que no período restante do mercado de transferências o Marselha ainda faça algumas mexidas, podendo vir a sair e a entrar alguns jogadores.

As táticas de Sampaoli

Já foi indicado qual o esquema utilizado nos dois principais momentos do jogo, o momento ofensivo e defensivo, mas o verdadeiro modelo e ideia de jogo de qualquer equipa é definido pelos movimentos e dinâmicas no desenrolar do jogo. Assim, dividindo esta análise em 2 dos 5 principais momentos do jogo (organização e transição ofensiva e defensiva + bolas paradas), vamos ver como jogou o Marselha de Jorge Sampaoli nos três jogos oficiais já realizados na temporada 21-22.

Momento Defensivo

No processo defensivo, Boubacar Kamara recua para o lado direito de Saliba e funciona como lateral direito, Luan Peres abre no lado esquerdo e joga como lateral esquerdo, e Pape Gueye é o médio mais recuado. Assim, o Marselha defende em 4-1-4-1 como é apresentado na imagem seguinte retirada do jogo contra o Nice.

No jogo contra o Bordéus, resultado do esquema adversário (linha de 3 centrais), o Marselha defendeu em 4-4-2 com Gerson a juntar-se a Payet, como é visível na imagem seguinte.

Ora, no aspeto tático existem algumas dinâmicas facilmente identificáveis. Uma delas é a pressão alta exercida pelo Marselha. Nestes cenários, os alas/extremos, Konrad e Ünder acompanham os laterais adversários, e quando o oponente constrói a três, quer seja com três centrais ou com dois centrais mais um médio, é Gerson ou Guendouzi, os interiores, a saltar à pressão quando a bola entra no elemento mais aberto, algo muito comum num 4-1-4-1.

Problemas defensivos

Relativamente ao aspeto anterior, podemos já apontar um problema, que é o espaço suas costas do meio-campo: Konrad-Gerson-Guendouzi-Ünder. Pape Gueye é então responsável por conferir equilíbrio, mas em alguns casos, é colocado em inferioridade numérica e vê o espaço nas suas costas ocupado pelo adversário.

Em cenários mais recuados, resultado do perfil demasiado ofensivo de Konrad e Ünder, a equipa de Sampaoli é colocada em desvantagem numérica nos corredores e no espaço entre o lateral e o central.

A transição do sistema ofensivo para o sistema defensivo envolve a mudança de posições de alguns jogadores, algo que, somado à indefinição e falta de coordenação da equipa, levam a uma reação à perda algo passiva e pouco objetiva.

Ainda assim, os maiores problemas defensivos do Marselha são resultado do perfil individual e coletivo dos jogadores. No geral falta experiência e capacidade de antecipação à linha defensiva. Para além disso, este sistema é novo para muitos jogadores e ainda se estão a adaptar.

Por último, ainda existe pouca coordenação entre os elementos da linha defensiva, dos 4 jogadores, 2 são reforços (Luan Peres e Saliba), e a coesão entre os elementos ainda é reduzida.

Para concluir, o Marselha ainda tem graves problemas defensivos e a coordenação da equipa ainda é pouca, algo que pode vir a ser desenvolvida nas próximas semanas e jornadas. Por fim, fica aqui um vídeo com os 5 golos sofridos pelo Marselha nos três jogos já realizados, um registo pouco positivo e que tem que melhorar, ainda que alguns golos tenham poucas indicações ou problemas táticos, no âmbito individual e coletivo.

Momento Ofensivo

No processo ofensivo reside a esperança de Sampaoli. O momento com bola da equipa do Marselha é forte e, de certa forma, único, mas também leva a algumas das debilidades defensivas, como vimos anteriormente.

Com bola, o Marselha atua no sistema apresentado em cima, um 3-1-2-2-1 ou 3-1-2-4-1 se considerarmos Ünder e Konrad na mesma linha de Gerson e Guendouzi, ou vice-versa. Os extemos geralmente estão sempre muito abertos, tanto que é difícil de identificar os dois num plano mais fechado.

No momento de construção em zonas mais recuadas, o processo de circulação é bastante positivo e através do sistema utilizado, o Marselha garante facilmente uma boa progressão inicial no terreno. A equipa de Sampaoli é capaz de progredir no terreno com o esquema base, utilizando os laterais bem abertos, os extremos projetados e os interiores entre-linhas, mas a principal dinâmica utilizada, para além do tal 3-2-4-1, consiste no recuo de um dos interiores para facilitar a circulação.

Os dois médios interiores juntam-se a Payet e formam uma linha a 3, que é a linha mais avançada da equipa de Sampaoli. Este 3 jogador têm papéis diferentes e influenciam o jogo de diferentes formas. Gerson é muito importante sem bola e os seus movimentos de rutura ou aproximação facilitam o progresso no terreno do Marselha, fazendo chegar com maior facilidade a bola a Konrad de la Fuente. Guendouzi tem um papel semelhante, mas é muito menos ativo e preponderante nas suas ações. Dimitri Payet é o jogador mais central e é o principal criador da equipa marselhesa. Assim, estes 3 elementos são responsáveis por fixar a linha defensiva e por ocupar os espaços entre-linhas e os “half-spaces”, neste último caso ocupados pelos dois interiores, algo que é também é visível na imagem anterior ao vídeo.

Assim, quando em organização, os dois alas/extremos pisam terrenos muito avançados e assim, a equipa do Marselha garante igualdade ou até mesmo superioridade numérica com a linha defensiva. Resultado disto, conseguem manipular facilmente a defesa adversária e conseguem isolar, os dois extremos em situações de 1v1, sendo esta a principal arma que o Marselha tem para criar perigo.

Assim, o processo de criação ofensiva do Marselha reside maioritariamente em garantir igualdade ou mesmo superioridade numérica em zonas abertas e desequilibrar através da capacidade de drible de Ünder e Konrad.

Problemas Ofensivos

Relativamente aos problemas ofensivos do Marselha, podemos começar pelo perfil dos jogadores. Ora, dos 5 elementos mais ofensivos, dois são dois extremos irreverentes e que se salientam pelo drible sem grande capacidade goleadora, outros dois são médios centro e o último é Payet, um médio ofensivo que se salienta pela capacidade técnica e de criação. Assim, falta um avançado que possa oferecer mais golo, movimentos diferentes do que existe e uma presença mais forte na área.

Para além disto, em semelhança aos problemas defensivos, o entrosamento e coordenação da equipa, em especial dos elementos mais ofensivos, ainda se percebe que a equipa se sente algo presa e que as dinâmicas ofensivas não se encontram totalmente assimiladas.

Por fim, fica aqui um vídeo com os 5 golos marcados pelo Marselha nos três jogos oficiais realizados na temporada 21-22.

Conclusão

Em suma, o Marselha tem um projeto ambicioso e Pablo Longoría está a montar uma bela equipa. Ainda assim, o plantel ainda está ainda em estado muito “bruto” e precisa de ser trabalhado. A curto prazo, Sampaoli é uma opção bastante interessante, irá fazer do gigante francês uma equipa competitiva, principalmente emocionalmente, e irá ligar, como já está a acontecer, a equipa e a instituição aos adeptos.

Na atual temporada, o “OM” tem obrigação de fazer melhor que a temporada transata, ainda assim, mesmo estando a época apenas no início, o título está minimamente atribuído ao PSG. Os restantes lugares de Champions e posteriormente de Liga Europa e Conference League serão disputados entre Monaco, que parte na pole position, Marselha, Lyon e Rennes, com Nice também à espreita.

A curiosidade para ver todos os “miúdos” jogar e para ver como irá jogar a equipa de Sampaoli é enorme, mas bem ou mal, é certo que a equipa do Marselha irá sempre fornecer espetáculo dentro ou fora das 4 linhas, com jogos efusivos, duros e bem disputados.



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