Portugal recebeu e venceu a Lituânia por uma vantagem de 6-0, num jogo de sentido único onde os visitantes nunca pareceram ter argumentos para fazer frente a uma seleção nacional que se mostrou mais inspirada do que o normal. Será caso para dizer que a melhor versão de Portugal nesta qualificação apareceu num encontro onde defrontou a seleção mais débil do grupo em casa.
Apesar das debilidades da Lituânia, o que mudou na equipa de Portugal que nos pode “alimentar a esperança” de ver a Seleção praticar um futebol diferente do que tem sido feito?
Tudo começou no onze inicial. Apesar de vivermos numa era onde qualquer jogador que seja titular no ataque de Portugal tenha qualidade para jogar nos melhores campeonatos, ontem vimos um grupo de seis jogadores do meio-campo para a frente que têm as características necessárias para um jogo de maior envolvência e domínio com bola, num estilo mais associativo e com maior critério e qualidade com bola. Ruben Neves, Bruno Fernandes, Bernardo Silva (no lugar que lhe pertence, a posição “10”), Pizzi, Cristiano Ronaldo e Gonçalo Paciência mostraram o melhor lado de Portugal, fazendo jus à sua qualidade com bola, mas também pelo lado cognitivo que lhes é, a todos, bastante reconhecido. Boas decisões, importantíssimos com movimentos sem bola e a jogar de uma maneira apoiada que não só é esteticamente bastante apelativa, como originou inúmeras ocasiões de golo e chegadas ao último terço.
Portugal apostou no seu tradicional falso 4-3-3 (com Ronaldo a atuar junto a Paciência), com ideias bem definidas:
- Explorar os espaços atrás da linha média de 4 jogadores da Lituânia
- Utilizar os seus avançados como apoios para sair a jogar por zonas interior
- Sobrecarregar o lado da bola com opções curtas e para criar superioridade numérica.
Com posse durante grande parte do encontro, Portugal construiu sempre em zonas altas do terreno, com dois jogadores do meio-campo a aproximarem-se sempre da linha defensiva (normalmente Bruno Fernandes e Ruben Neves), fixando e atraindo os médios da Lituânia para criar espaço nas suas costas, onde Ronaldo, Bernardo, Pizzi ou Gonçalo Paciência apareceram de forma recorrente.
Assinaladas na imagem, as áreas a explorar por Portugal atrás da linha de 4 da Lituânia, mas também o posicionamento de Ruben Neves e Bruno Fernandes a atrair os médios adversários, criando espaço para os seus colegas aparecerem.
Foi recorrente, desde o início da partida, vermos tanto Ronaldo como Gonçalo Paciência a recuarem no terreno para essas zonas entre linhas, que são difíceis de defender e de “responsabilizar” defensivamente. A liberdade de movimentos de Bernardo Silva e os apoios dos dois avançados fizeram com que Portugal estivesse quase sempre em vantagem numérica durante o momento de construção, seja no corredor direito ou no corredor esquerdo, com os dois médios centro mais recuados sempre a trabalharem para ser opção curta para os defesas portugueses.
Um exemplo claro de superioridade numérica no lado da bola. Destacado, Gonçalo Paciência num dos seus movimentos de aproximação entre linhas para servir como apoio para os restantes colegas, em zonas do terreno onde os avançados portugueses normalmente não aparecem.
Não faltou muito para Portugal justificar a vantagem, e o lance que antecede a grande penalidade que origina o primeiro golo resume quase na perfeição as ideias que referimos de Portugal para este jogo. O vídeo em baixo ilustra e descreve alguns desses momentos:
Passando para um análise em zonas mais avançadas do terreno, Portugal soube sempre ocupar diferentes zonas e alturas do campo. Ronaldo e Paciência relacionaram-se muito bem, com movimentos complementares e até a combinarem com bola (como foi o caso do segundo golo), mas para além dos homens da frente, o espaço criado em zonas centrais só foi possível porque Pizzi e Mário Rui tiveram um papel muito importante nos corredores. O médio do Benfica e o defesa do Nápoles foram os responsáveis por esticar a defesa da Lituânia, sendo sempre opções nos corredores e explorando a largura total do campo. Com o seu posicionamento bem aberto, Portugal obrigou a Lituânia a tomar decisões defensivas: se preferia defender as zonas centrais com mais gente, Portugal tinha espaço por fora; se os seus jogadores se preocupavam em demasia com os corredores, Ronaldo, Paciência e Bernardo trabalhavam por dentro e com mais espaço para combinarem.
Posicionamento de Portugal no meio-campo ofensivo. Os três médios em trocas posicionais constantes, Ronaldo e Paciência em zonas centrais e nos corredores Pizzi (por vezes com apoio de Ricardo) e Mário Rui (dono da ala esquerda, onde Bernardo apoiou algumas vezes).
Um grande exemplo das dinâmicas interessantes entre Ronaldo e Gonçalo foi a maneira como se movimentavam, muitas vezes em simultâneo, oferecendo diferentes opções aos seus colegas (ou mesmo um para o outro). Ronaldo quase sempre como apoio mais frontal, a recuar mais no terreno e atraindo adversários, enquanto que Gonçalo era responsável por fazer recuar a linha defensiva com movimentos de ruptura nas costas dos centrais lituanos. A diversidade de movimentos por parte da dupla portuguesa foi uma constante dor de cabeça para os defesas centrais lituanos:
Para terminar, um destaque merecido para Bernardo Silva. O médio do Manchester City é, neste momento, o jogador mais influente no jogo da Seleção Nacional, e neste jogo notou-se ainda mais a sua importância e contribuição para a equipa. Jogando onde mais gosta, no centro do terreno, Bernardo esteve um pouco por todo o lado, foi exímio com a bola nos pés e fez gato sapato de qualquer defesa que se tentou colocar à sua frente. Uma exibição memorável de um dos melhores jogadores do Mundo, resumida aqui em números:
Nota: as imagens utilizadas e a análise mais detalhada foram principalmente dos primeiros 45 minutos, isto porque o desequilíbrio do jogo e do resultado levou a um “abrandamento” e também a uma mudança da atitude das duas equipas ao longo do jogo.
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