No ano de 2020, o São Paulo FC de Fernando Diniz ainda não conseguiu atingir a regularidade de resultados que certamente a sua torcida pretende e exige. No Paulistão contam com 5 vitórias, 3 empates e duas derrotas, enquanto na Libertadores têm uma vitória e uma derrota em 2 jogos.
Contudo, são as ideias que os jogadores apresentam em campo que transformam o São Paulo numa equipa muito interessante de seguir.
Num esquema tático assente num 1x4x2x3x1, o São Paulo é uma equipa que apresenta um futebol de ataque muito positivo, assente em ideias bem definidas e que vê no seu ataque posicional o momento em que mais consegue mostrar a qualidade dos seus intervenientes.
Organização Ofensiva
Em organização ofensiva, todo o jogo do Tricolor Paulista parece girar sob a influência do espetacular Dani Alves. Transformado num autêntico “Iniesta” do Campeonato Brasileiro, demonstra a cada partida a sua qualidade. A forma como liga os setores por intermédio do passe, ao mesmo que tempo que escolhe bem os momentos em que acelera, fixa adversários e descobre homens livres, permite-lhe influenciar e juntar toda a equipa neste “rondo” a campo inteiro.
Etapa de Construção
Na etapa de construção o São Paulo mostra a faceta mais criativa do treinador Fernando Diniz. Apesar dos defesas centrais (Arboleda e Bruno Alves) até apresentarem alguma qualidade com bola controlada, o treinador pretende desde a fase inicial que os seus médios tenham o protagonismo do jogo. Assim, Dani Alves e Tchê Tchê baixam em fase de construção para o meio dos centrais e criam um triângulo de MC-MC-MO com o interessante Igor Gomes na própria grande área. Procuram uma saída limpa, tocando a bola desde trás, pelo chão. A saída da etapa de construção é feita preferencialmente para os corredores laterais através dos defesas centrais colados à linha e dos laterais projetados como extremos. Os extremos estão colocados em zonas interiores e casos estejam sozinhos entre linhas conseguem ser solicitados pela qualidade de passe de Dani Alves.
Embora consigam sair de forma limpa muitas vezes, a grande permuta posicional engloba naturais riscos nesta etapa. Entrando em condução por corredor central com os defesas abertos, a equipa pode ser apanhada desequilibrada em caso de perda de bola.
Etapa de Criação
Em zonas de criação começa o carrossel que é o jogo ofensivo do Tricolor Paulista. Dani Alves e Tchê Tchê são os armadores, que através do passe tentam encontrar espaços na defesa adversária. Igor Gomes, Vítor Bueno, Antony (e por vezes Pato) movimentam-se entre as linhas do adversário procurando receber e orientar ou tabelar com os colegas que provocam em condução.
A largura é dada pelos dois laterais (embora os extremos – principalmente Antony – também apareçam nestes espaços). Enquanto à direita, podemos ver Juanfran ou Igor Vinícius sempre abertos, na esquerda Reginaldo apresenta variabilidade de movimentos. Ora aparece por dentro em posição de equilíbrio e a ser mais um médio, ora está aberto em largura máxima. Nos momentos que está por dentro a largura acaba por não ser dada pois os extremos estão preferencialmente em espaços interiores.
Com a colocação de muitos jogadores na frente, e porque os médios que jogam atrás do bloco arriscam (tanto em passe, em condução ou movimentos de rotura sem bola) por vezes a equipa fica exposta no momento de transição defensiva com poucos jogadores a darem o equilíbrio.
Transição defensiva
O momento de transição defensiva do São Paulo é caraterizado pela reação forte à perda de bola. Contudo, se estiver em vantagem no marcador e o adversário o permitir, não apresentam grandes problemas em agrupar-se logo mais atrás num bloco baixo, entrando em organização defensiva. Quando o adversário contra-ataca apresentam um princípio que lhes resolve alguns problemas, mas que os pode expôr ainda mais (se houver qualidade no outro lado). Em casos de bola descoberta e com o adversário em progressão, o princípio defensivo passa por um dos defesas encurtar sob o portador, em vez de realizar uma temporização (baixando no terreno, orientando o adversário para os corredores e esperando a recuperação defensiva dos restantes colegas). Este comportamento ajuda a retirar o tempo de decisão ao adversário, mas também pode promover que o adversário consiga o objetivo de um contra ataque, o de chegar à baliza adversária o mais rápido possível.
Organização Defensiva
No processo defensivo o posicionamento da equipa altera-se para um 1x4x4x2 na etapa de impedir a construção. E para um 1x4x5x1, 1x5x4x1 ou 1x6x3x1 (consoante o posicionamento dos extremos) na etapa de impedir a criação.
Impedir a Construção
Quando procura impedir a construção do adversário o São Paulo posiciona-se com Pato e Igor Gomes à frente dos quatro médios.
A intenção costuma passar por efetuar uma pressão alta, orientando o adversário para os corredores laterais (momento de pressão). Ainda sobre a pressão alta, por vezes, o extremo do lado contrário pode pressionar o defesa central pelo lado cego.
Em equipas que joguem com um pivot defensivo, este poderá aparecer como Homem Livre em algumas situações. O padrão passa por um dos dois avançados (Pato ou Igor Gomes) pressionarem pelo lado cego. Contudo, um dos médios defensivos (Dani Alves principalmente) costuma saltar à pressão neste jogador. Como os extremos demonstram estar preocupados com o seu “par” (laterais adversários), o corredor central (principalmente o espaço à frente do segundo central) fica um pouco desprotegido em alguns momentos.
Impedir a Criação
Quando o adversário consegue ultrapassar a sua pressão alta, o São Paulo organiza-se num bloco médio/baixo. Igor Gomes procura regressar e cria uma linha de 3 com os outros dois médios.
Nesta etapa, o São Paulo demonstra preocupação em proteger a sua baliza, com comportamentos de controlo da profundidade em caso de bola descoberta.
Os extremos continuam preocupados (quase unicamente) com o lateral adversário, baixando para 5º e 6º defesa quando necessário. Os laterais e os defesas centrais demonstram preocupação em não deixar os “seus” adversários enquadrarem, fazendo com que muitas vezes apareçam desposicionados em relação à restante linha defensiva (quando perseguem o seu adversário para o espaço entre-linhas). Nestes momentos criam-se espaços entre a linha defensiva, seja entre extremo e defesa central quando sai o lateral, seja entre lateral e central, quando sai um dos defesas centrais. Nestes casos os médios não demonstram o princípio de entrar no alinhamento defensivo.
Na defesa de possível cruzamento, apresentam o seguinte padrão: 1º defesa central faz uma zona (1º poste), 2º defesa central e lateral do lado contrário marcam ao homem. Nestes momentos os médios costumam estar longe de uma possível segunda bola/cruzamento atrasado pelo que poderá ser uma debilidade.
Face a estes comportamentos, podemos identificar uma potencialidade face aos comportamentos apresentados. Parece possível explorar o espaço que o lateral esquerdo (Reinaldo) concede ao perseguir o extremo no espaço entre-linhas.
Transição Ofensiva
No momento de Transição Ofensiva, sempre que existem condições para tal, a equipa procura acelerar em direção à equipa adversária. O movimento padrão passa pela procura do Avançado (Alexandre Pato) que se coloca no espaço livre deixado pelo lateral projetado, no lado cego do defesa central.
Quando não consegue realizar uma transição em profundidade e ferir rapidamente o adversário, o São Paulo opta por manter a posse de bola e entrar em organização ofensiva.
Esquemas Táticos
Canto Defensivo
Nos Cantos Defensivos o São Paulo opta por uma marcação mista. Em zona aparecem 5 homens dentro da pequena área. Pato e Dani Alves estão sob a linha lateral da pequena área (lado a lado ou um a frente do outro), a preparar uma possível bola mais curta. Dentro da pequena área, em triângulo aparecem os dois centrais Bruno Alves e Arboleda e o médio ala Vítor Bueno. Os restantes marcam homem a homem.
De salientar que parecem dar alguma liberdade para o canto curto. Nesses casos saem dois homens, e a linha procura subir após passe atrasado. Contudo, existe demasiada atração para a zona da bola, permitindo algumas situações de igualdade numérica no 2º poste. Além disso, não parecem ter em conta a bola de primeira (a defesa ainda está a subir quando o jogador cruza de primeira). Podem conseguir fora-de-jogo mas também podem ser apanhados em contrapé e não conseguir defender os movimentos de segunda linha (jogadores vindos de trás).
Cantos Ofensivos
Os cantos ofensivos podem ser batidos com curva aberta ou fechada (Dani Alves e Reginaldo). Colocam 5 ou 6 jogadores na área. Os jogadores vão trocando a posição que aparecem a finalizar (existe a tendência de Pato ao 2º poste, Arboleda, Bruno Alves e Bueno na zona entre o Gr e Penalty, ficando Igor Gomes e Reginaldo para uma segunda bola). Quando Pablo joga, ataca muito bem a zona do 1º poste (de salientar que os 3 golos de canto do São Paulo em 2020 são na zona do primeiro poste).
Quando as defesas realizam uma zona a bola costuma ser enviada para fora (entre a zona e o penalty). Contra o Santos foi uma constante. Em casos de marcação homem-a-homem pode surgir alguns bloqueios.
No lado direito costumam optar por cantos curtos e combinações (Dani Alves, Vitor Bueno, Reginaldo e Igor Gomes. A tendência pode passar por uma combinação para cruzamento ao segundo poste.
Jogadores Chave
Dani Alves – Nova vida como médio centro, assume-se como o jogador mais diferenciado deste São Paulo. Liga todo o jogo ofensivo da equipa.
Tchê Tchê – O companheiro ideal para Dani Alves. Demonstram grande entendimento e complementaridade. Jogador de baixo centro de gravidade, capacidade de dominar os espaços curtos e sair em passe ou provocação.
Igor Gomes – O terceiro médio deste São Paulo. Com apenas 21 anos, demonstra grande capacidade de jogar entre as linhas do adversário e parece fazer tudo bem (passa, conduz, dribla).
Antony – Jogador que torna a equipa mais imprevisível através das suas investidas individuais. Esquerdino, desequilibra qualquer estrutura adversária, com movimentos da direita para dentro. Vai jogar pelo Ajax na próxima época.
Comportamento do treinador face aos resultados
A ganhar, o treinador costuma optar por manter o sistema tático (embora baixe um pouco as linhas) e fazer substituições de “troca por troca”. Hernanes, Pablo e Igor Vinícius apresentam-se opções igualmente válidas para o Tricolor Paulista.
Quando está a perder e à procura do resultado já demonstrou um comportamento de maior “risco”, alterando o sistema tático, retirando um defesa para a entrada de mais um elemento de ataque (Bruno Alves – Pablo vs Santos e Anderson Martins – Everton vs Santo André).
O melhor poderá estar para vir?
Numa fase inicial da época (os torneios regionais não foram concluídos e o Brasileirão ainda não começou), o São Paulo demonstrou ser uma equipa que ainda está em evolução. No processo ofensivo, demonstra muita capacidade coletiva, com momentos fantásticos em ataque posicional e a qualidade individual que pode resolver um jogo. No entanto, para se tornar uma equipa mais estável e regular pode ainda melhorar no seu processo defensivo, principalmente nos princípios de proteção do corredor central e nos comportamentos de linha.
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