São Paulo: ofensividade à brasileira
O São Paulo comandado por Fernando Diniz tem estado em evidência no Brasil durante as últimas semanas. Apesar das eliminações na Copa Libertadores e na Sul-Americana, o clube paulista conseguiu uma classificação contundente sobre o Flamengo para as semifinais da Copa do Brasil e está figurando entre os primeiros colocados na disputa do Campeonato brasileiro. Com um elenco enxuto, recheado de jovens e um treinador muito afeiçoado ao lado humano do futebol, a equipa segue um norte definido com relação a conceitos de jogo, mesmo que muitas vezes a aplicação dessas ideias possa ser um tanto problemática.
Quando se fala em São Paulo, o nome de Fernando Diniz já surge como um dos pilares recentes do time. Sendo um dos treinadores mais longevos do Brasil atualmente (pouco mais de 1 ano no tricolor paulista), Diniz destaca-se pela visão de futebol que prega, com uma atenção especial ao lado humano do jogador. Formado em psicologia, o treinador brasileiro sempre enfatiza em suas entrevistas que o indivíduo e sua subjetividade são peças fundamentais de todo o processo de construção a sua equipa. Isso fica evidente na relação com que consegue estabelecer com seus jogadores, principalmente os jovens, potencializando-os não só técnica e taticamente, mas mentalmente também, com casos do atual São Paulo, como Diego Costa, Gabriel Sara e Brenner.
Portanto, aqui o objetivo será comentar um pouco sobre o que este trabalho corajoso e focado na evolução individual de cada jogador tem feito para conseguir os resultados mais recentes, com destaque para algumas dinâmicas ofensivas e suas peças-chave nessas situações.
PROCESSO OFENSIVO
Diniz já é reconhecido nacionalmente pelo estilo de jogo ofensivo, de posse e saídas curtas desde que despontou no Audax em 2016. Mantendo-se fiel às suas ideias, propõe que o SPFC pratique:
- Saídas curtas e elaboradas desde o guarda-redes, alternando estruturalmente nessas situações entre um 3+1, com um dos médios entre os centrais, 2+2 ou até mesmo com ambos médios defensivos entre os centrais;
- Busca por tabelas curtas para facilitar a progressão da posse entre os corredores, tanto vertical, quanto horizontalmente;
- Alta mobilidade ofensiva, com uma ocupação de espaços totalmente flexível e concentrada na movimentação da bola (destaque para os médios e Luciano nestes momentos, sendo jogadores criativos com bola ao pé);
- Movimentos constantes de ruptura sobre última linha defensiva adversária;
A partir desses princípios, o São Paulo monta sua organização ofensiva extremamente fluída e que, de certa forma, até pode lembrar um pouco o futebol brasileiro em décadas passadas, com muita liberdade para os jogadores variarem de posicionamento e buscarem desequilibrar ofensivamente a partir do setor onde a bola está.
Apesar de ter apresentado resultados consistentes ultimamente e ter conseguido uma certa evolução em seu futebol, ainda são notáveis algumas dificuldades do tricolor. Por exemplo, são vários os momentos onde suas saídas de bola ficam superpovoadas por descensos dos médios adiantados, facilitando o trabalho de pressing adversário e tendo poucas opções em zonas avançadas para explorar a profundidade ou fixar marcadores rivais (muitas vezes apenas Brenner está nessa condição). Outra dificuldade está expressa quando o São Paulo consegue estabelecer-se em campo contrário, mas não possui mecanismos para vencer as linhas de marcação oponentes, abusando de cruzamentos ou ficando dependente de jogadas individuais.
Finalizando essa breve explanação dos conceitos ofensivos objetivados de Diniz e seu São Paulo, assim como alguns problemas na operacionalização dos mesmos, passamos para os principais agentes desses feitos: os jogadores. Como foi dito, o São Paulo parece carregar uma espécie de reverência a alguns trabalhos de grandes técnicos brasileiros do passado, ao ter um estilo muito próprio de atacar, uma ofensividade à brasileira. Nesse sentido, seguimos para 3 jogadores que tem se destacado recentemente, contribuindo diretamente para as vitórias da equipa.
OS DESTAQUES OFENSIVOS:
Gabriel Sara
O jovem médio ofensivo de 21 anos tem se mostrado uma das gratas surpresas do Brasileirão 2020. Polivalente e com aptidões técnicas e físicas para desequilibrar por meio do passe ou do drible, Sara apresenta uma movimentação inteligente para oferecer apoios e facilitar a boa circulação da posse de bola. Também é interessante salientar que se notabiliza em cenários onde consegue receber com espaço para girar e progredir em direção a meta adversária, especialmente em momentos de transição. Com boa finalização, apresenta-se como um médio muito completo, podendo atuar como meio-campista em diferentes faixas do campo ou, até mesmo, volante. Já soma 19 partidas no campeonato brasileiro, com 4 golos marcados e 2 assistências dadas.
Luciano
Poucos treinadores conseguem extrair tanto de Luciano como Fernando Diniz e estão a reeditar uma parceria de sucesso de tempos de Fluminense. O camisa 11 parte de um posicionamento avançado para atuar em qualquer zona do campo onde a bola esteja, muitas vezes aparecendo até mesmo entre os médios-defensivos para recepcionar, girar e dar continuidade as jogadas. Com bom critério nas associações curtas a partir do meio-campo, consegue tabelar e lançar bons passes para os jogadores a ultrapassar, conseguindo surgir posteriormente para finalizar com qualidade com sua perna canhota. Desde que chegou ao São Paulo, em agosto, já conta com 12 golos em 23 partidas, formando uma dupla mortal com o garoto Brenner.
Brenner
Lançado precocemente em 2017 e ainda como extrema, o jovem demorou um certo tempo para maturar o seu futebol e tendo inclusive pensado em parar por conta da desilusão com relação ao seu sucesso, mas novamente Fernando Diniz, que também havia trabalhado com ele no Fluminense, solicitou para que fosse reintegrado ao São Paulo em 2020. Após a pandemia, Brenner explodiu finalmente. Sendo um avançado caracterizado pela boa mobilidade, consegue oferecer apoios e sustentar a posse em algumas ocasiões, além de ter bom giro sobre os marcadores. Ademais, parece mostrar uma impetuosidade, uma forma de rebeldia, nas suas ações, traduzindo-se como um ponta-de-lança muito intenso e qualificado nos últimos metros do campo para romper a profundidade, posicionar-se da melhor forma possível e arrematar ao arco adversário. No momento, soma 17 golos em 29 jogos no ano.
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