A Adaptabilidade Estratégico-Tática da “Canarinha” para a Rússia 2018 – Momento de Organização Ofensiva e Transição após perda de posse de bola
Quando falta menos de três meses para o começo do Campeonato do Mundo Rússia 2018, as equipas técnicas aproveitam as últimas oportunidades de preparação para potenciar as ferramentas das suas equipas para que nada falhe no início do torneio. Neste breve artigo vamos analisar de que forma o renovado Brasil de Tite está a preparar a sua equipa para a competição, abordando alguns fatores de rendimento que estão a ser equacionados e qual a abordagem aos mesmos por parte da equipa técnica e jogadores brasileiros.
Inserido no Grupo E com Costa Rica, Suíça e Sérvia, é por demais evidente que o selecionador brasileiro está a ter em conta as caraterísticas dos adversários na prova no momento de escolher as seleções para realizar os jogos de preparação (prática comum) prova disso é a forma como Tite aborda sem tabu a nuance estratégica em função da equipa opositora e, dos princípios e caraterísticas do seu modelo de jogo nos pré e pós match de cada confronto.
Nesse sentido, em Novembro de 2017 e no passado mês de Março realizaram jogos amigáveis contra Inglaterra e Rússia respetivamente e a nota predominante nas análises pós match do líder brasileiro foi a “linha de 5” do adversário no momento de organização defensiva e os ajustes estratégico-táticos que a sua equipa teve de realizar para ultrapassar esta condicionante.
No seguimento do raciocínio anterior, esta caraterística está presente em dois dos três adversários do Brasil na fase de grupos do Mundial que se avizinha: Costa Rica e Sérvia. As imagens abaixo apresentadas mostram os sistemas táticos apresentados pelas seleções em causa nos últimos dois jogos oficiais de ambas.
Nesta análise vamos tentar descortinar que abordagem estratégico-tática no momento de organização ofensiva a equipa irá apresentar no Mundial para ultrapassar esta prevista “linha de 5” no momento em que o adversário está colocado em bloco médio-baixo e, que comportamentos vão assumir no momento de perda da bola, utilizando o jogo contra a Rússia como exemplo.
Organização Ofensiva
- Amplitude Máxima em cima da linha de 5
“Precisamos trabalhar no lado ofensivo do nosso jogo para aperfeiçoar alguns dos ataques que mostramos contra a Inglaterra. Precisamos criar mais espaço se quisermos abrir uma linha defensiva de cinco” (Tite para Globo)
Na tentativa de criar o máximo de espaço possível entre elementos do povoado setor defensivo adversário, a amplitude do campo está sempre garantida, independentemente do intérprete. Este posicionamento a toda a largura provoca uma dificuldade acrescida ao adversário no momento de mudança de referências de marcação espaço/homem que, por consequência, provoca desequilíbrios momentâneos que serão aproveitados através de movimentos e passes sempre com o objetivo de conquistar a profundidade às costas da linha defensiva.
- Admitir Inferioridade para acelerar em superioridade
“Os princípios gerais são comuns às diferentes fases do jogo, baseando-se nas relações espaciais e numéricas, entre os jogadores da própria equipa equipa e os adversários, na zona ativa da bola: (i) não permitir a inferioridade numérica, (ii) evitar a igualdade numérica e (iii) procurar criar a superioridade numérica” (Queiroz, 1983; Garganta & Pinto, 1994)
A forma consciente e premeditada como jogadores dotados tecnicamente atraem marcação e respetivas coberturas defensivas a um dos corredores, através de um jogo posicional curto, admitindo, inclusivamente, inferioridade numérica momentânea, para posteriormente variar de forma rápida através de passe o centro de jogo e explorar superioridades criadas no corredor oposto, tirando partido da menor velocidade de basculação dos elementos das linhas adversárias em relação à bola é um dos princípios bem vincados nesta equipa. O trabalho do jogador que funciona como vértice mais recuado do triângulo que atrai as atenções ao corredor é de extrema importância pois tem de receber a bola em campo aberto (fora da zona de alcance da pressão adversária e com os apoios no sentido da baliza adversária) para realizar uma variação de centro de jogo rápida e eficaz.
- Jogo Posicional do “Lateral construtor”
“…Calma, posicionem os dois meias, ajustem com os laterais construtores que nos vamos chegar, vai botar volume” Tite (Março, 2018)
No linha de raciocínio do princípio acima descrito, o posicionamento dos defesas laterais é parte fundamental do processo ofensivo da equipa que funcionam como quarto médio na fase de criação da equipa criando superioridade em cima da linha do setor médio composta, no caso da Rússia por 3 elementos. O trabalho dos médios interiores que se oferecem á marcação para atrair adversário e libertar espaço para o lateral explorar corredor central também é evidente.
Após basculação rápida inúmeras situações de superioridade numérica (2×1 e 3×2) obrigando, quando o ajuste do setor médio não é suficientemente rápido em relação à bola, a um dos três centrais a sair na mesma. A partir desse momento o buraco em cima do setor defensivo está criado e o objetivo de desmontar a muralha de 5 defesas cumprido.
- Transição Defensiva – O papel dos “laterais construtores” na perda de bola
“Diz-me como atacas e eu dir-te-ei como defendes”
Como o jogo de futebol é uma história, um acontecimento nunca é independente. A forma como uma equipa ataca, vai ditar a forma como a mesma vai comportar-se no momento da perda da bola. O tempo de reação à perda da posse de bola é um indicador de performance nas equipas de futebol, em 2014 um estudo feito na Primeira Liga Alemã mostrou que as equipas melhor classificadas eram as que reagiam mais rapidamente á perda da posse de bola (Vogelbein, Nopp & Hokelmann, 2014).
Pelo facto do volume de jogo ofensivo depender bastante dos laterais construtores é natural que estes desempenhem um papel fundamental no momento da perda da posse de bola pelo facto de se encontrarem maioritariamente em zonas interiores quando isso acontece. Dani Alves, Marcelo e Casemiro têm a função de equilibrar a equipa e retirar verticalidade ao contra ataque adversário assumindo comportamentos de pressão/contenção junto do portador da bola. Estes tentam condicionar o jogo adversário para espaços exteriores (corredores laterais), “ganhando” tempo para que os colegas mais adiantados possam reagir e tornar o campo o mais pequeno possível na zona ativa da bola.
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