Xavi: o regresso do herdeiro do Tiki-Taka
Começou uma nova era em Barcelona. Namoro antigo, vontade das duas partes e um regresso há muito anunciado. Xavi voltou para completar a profecia do Tiki-Taka. Considerado por muitos o sucessor natural de Guardiola, [também ‘acusado’ de ser uma versão moderna de Johan Cruyff] o cerebral médio vai tentar reerguer o clube do coração das cinzas.
Um clube com que ganhou tudo, com que estabeleceu a nova ordem futebolística de bola no pé e onde passou mais de 20 anos. Este é novo Barcelona, de Xavi Hernández.
Como treinador, Xavi granjeou vencer sete troféus em pouco mais de dois anos no Qatar, ao serviço do Al-Sadd. Como esperado, a equipa do espanhol é dominadora, quer “valorizar a bola” -palavras do próprio- e ter sempre o controlo do jogo.
Ter bola não para fazer número mas para ferir o adversário. Importa por isso perceber como joga de facto este Al-Sadd de Xavi, e se o eterno ‘6’ Blaugrana conseguirá transpor o seu modelo arrojado e inovador para um contexto competitivo superior, e devolver o Barcelona às glórias europeias pelas quais os adeptos estão famintos. Com a entrada de Xavi, o possível XI do Barcelona poderá passar por algo deste género:
Modelo de jogo
A equipa catari desdobra-se num duplo modelo, consoante o momento do jogo. Cada vez mais comum em vários treinadores, a equipa ataca num 3x4x3 e defende num 4x3x3 no momento de organização defensiva. Até aqui tudo normal, mas há uma nuance que distingue este desdobramento das demais equipas que o fazem. Até então temos sido habituados a ver as equipas a fazê-lo montando a construção a 3 com um dos laterais e os dois defesas centrais, ou mesmo com um dos médios que baixa para a linha dos centrais, projetando os dois laterais em simultâneo.
No caso de Xavi, quem constrói a 3 são os dois laterais e o defesa central, sendo que o segundo central passa a fazer parte do duplo pivot do meio-campo no momento ofensivo (e aí com a equipa em 3x4x3). Confuso? Talvez. Inovador? Muitíssimo.
Imagine-se que este é um momento do jogo em que o adversário chutou a bola. A equipa de Xavi estava preparada para defender o seu meio-campo e por isso organizada num 4x3x3. Assim que a bola é recuperada, a estrutura imediatamente muda para o 3x4x3 com os dois médios a defenderem por dentro a abrirem e a serem os alas para o ataque. O defesa central, habitualmente personificado por Jung, imediatamente salta para terrenos mais adiantados e fica como médio (A atacar pense-se nele como um Weigl ou João Palhinha nos respetivos sistemas de 3x4x3).
Se isto é replicável em Barcelona? Só o tempo o dirá. Porém, ao analisar o Al-Sadd chega um pressentimento que o papel de Jung poderá ser interpretado na perfeição por Sergio Busquets, diferenças à parte.
A importância de Jung começa na capacidade de interpretação de jogo que este tem de ter para compreender o espaço a ocupar nos diferentes momentos, ajustando às necessidades da equipa durante 90m.
Momento ofensivo
Como referido, neste momento a equipa dispõe-se num 3x4x3 em que é pedido a máxima largura e profundidade aos seus jogadores. A profundidade visa empurrar a linha defensiva para o mais perto possível da sua grande área. A largura pretende uma melhor circulação de bola. Por isso, a atacar é visível que os centrais abrem muito, e os laterais projetam na linha do avançado. Aos extremos -também próximos dessa linha- é pedido que recebam a bola entrelinhas, num espaço neutro que confunde e arrasta marcações.
Para Xavi, em entrevista ao Coaches Voice’s, a chave passa por encontrar sempre o homem livre disponível. Por isso mesmo, vários espaços podem ser ocupados por diferentes jogadores, pelo que o psicológico será determinante para o sucesso de um jogador no plantel culé. A capacidade de interpretação do modelo e de perceção de espaços será tão ou mais determinante que a capacidade técnica, que abunda em Barcelona como se sabe.
Ainda no momento ofensivo, a criação de superioridade é determinante, e mais uma vez, a ser interpretada pelo jogador. Os movimentos de arrastamento de marcação são feitos mas a decisão será tomada em função do que o adversário direto fizer. Se saltar na marcação, abre espaço a um movimento de rotura. Se não o fizer, o espaço entrelinhas pode e deve ser aproveitado. Nos corredores laterais, a superioridade é garantida pelo ala e pelo extremo desse lado, ou ainda pelo central exterior e pelo ala, mais uma vez consoante o movimento adversário.
Momento Defensivo
O que se pode esperar é que o Barcelona divida o momento defensivo em pressão e organização, com estruturas diferentes em ambos momentos. Antes, importa clarificar os dois. Na pressão falo em meio-campo ofensivo, na organização refiro-me à defesa da baliza em meio-campo defensivo.
A pressionar o adversário, o sucessor de Koeman arrisca brutalmente. Cria dificuldades aos adversários que queiram sair a jogar à custa da colocação de muitos homens em terrenos adiantados. A pressão é orientada para um dos lados, para o mais fraco (suponho eu, sem conhecer bem o futebol catari) e nesse momento, o Al Sadd quase que faz uma marcação HxH, desprotegendo o setor defensivo e deixando muitas vezes 1×1 entre defesa e avançado. Segundo o próprio, fá-lo assumindo o risco que corre, defendendo-se com uma reação muito rápida para as segundas bolas ao colocar os seus jogadores um metro à frente dos aversários diretos.
Em meio-campo defensivo, como já abordado, a equipa desdobra-se em 4x3x3 com Jung a juntar-se à linha defensiva. Ainda assim, o modelo tem algumas lacunas na transição do 3x4x3 para o 4x3x3, pois está sujeito à interpretação da necessidade de ajuste num momento específico, não de um mas de vários jogadores (Jung e os dois alas à cabeça) no timing certo. Isso pode criar indefinição e abrir espaços aos adversários.
Outro dos problemas é o controlo da profundidade, exatamente pela linha muito subida e pela questão do 1×1 entre defesa e avançado contrário.
Reside a dúvida em relação ao modelo no Barcelona. Será Busquets a peça desbloqueadora? Ou será Xavi mais conservador e adotará o 4x3x3 que tanto sucesso lhe trouxe durante a carreira?
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