O Flamengo não demorou muito a substituir Jorge Jesus. Depois de um ano de sucessos históricos com o treinador português, o clube campeão da América do Sul foi buscar um nome de peso para treinador principal. Depois de vários anos como adjunto de Pep Guardiola nos maiores palcos do Mundo, Torrent estreou-se como treinador principal nos New York City FC, clube que partilha os mesmos donos que o Manchester City (onde ajudou os citizens a se tornarem campeões). Herdando uma equipa em crescimento na MLS, Torrent teve impacto imediato e levou os blues a outro patamar, culminando a sua prestação em 2018 e 2019 com uma presença nas meias finais dos playoff da MLS. Em 2 anos, foram 60 jogos, 29 vitórias, 15 empates e 16 derrotas, onde foram marcados 104 golos marcados e 76 golos sofridos. O Flamengo é uma equipa que passa grande parte do tempo a atacar, então vamos prestar atenção e analisar o momento ofensivo que Torrent privilegia nas suas equipas.
ADN catalão
O estilo e ideia de jogo de Torrent requer poucas apresentações. Com sangue e cérebro influenciado pelo jogo posicional que o Barcelona implementou durante décadas, os NYCFC eram sempre uma equipa fiel a essas origens. O “Juego de Posicion” parte como princípio de que existem zonas específicas do campo que devem ser ocupadas dependendo do posicionamento da bola. Essas posições são não só um ponto de partida, mas uma maneira de ganhar o espaço pretendido na fase de jogo seguinte. Há uns anos, Thierry Henry explicou da melhor maneira alguns dos processos desse estilo de jogo sob alçada de Pep Guardiola (assistido pelo agora treinador do Flamengo):
Partindo de um 4-3-3 clássico mas quase sempre construindo em 3-4-3 com um dos médios a recuar como fazia o Flamengo de JJ, Domenec Torrent segue alguns dos princípios enunciados por Henry. Pretende sempre sair a jogar de forma apoiada, quer os seus jogadores dos corredores laterais bem abertos para ampliar os espaços entre os defesas contrários e assim criar espaço para jogar nas zonas mais perigosas e onde pretende criar vantagem: o corredor central.
De trás para a frente, de fora para dentro.
O futebol apoiado que as equipas com a filosofia semelhante a Torrent praticam é normalmente caracterizado como “futebol de posse”, mas o próprio treinador já admitiu que não gosta dessa definição. A posse de bola é uma ferramenta para chegar ao objetivo final, mas nunca é o objectivo em si mesmo. Através da posse, as equipas de Torrent pretendem atrair/esticar os adversários e explorar o espaço criado pelos posicionamentos dos jogadores no meio-campo ofensivo.
De trás para frente, e de fora para dentro, a ideia da equipa passa por explorar a pressão do adversário, criar superioridades em qualquer zona para fazer a bola chegar ao Homem Livre, que normalmente se encontra dentro do bloco adversário e com mais espaço que os seus companheiros. Para isto acontecer, o portador da bola necessita de ser paciente com bola, saber jogar sob pressão e utilizar os apoios dos seus companheiros para fazer a bola chegar ao tal homem livre , seja de forma direta ou indireta:
Devagar para atrair… Acelerar para castigar o adversário.
No meio-campo ofensivo, o Flamengo também vai ter uma abordagem diferente daquilo que era a equipa de Jorge Jesus. Num vídeo que fizemos no início do ano, explicámos na altura os comportamentos dos jogadores do Flamengo para “ganhar o espaço” ao adversário no meio-campo ofensivo, através de alguns movimentos verticais obrigatórios e exploração do corredor lateral para criar superioridade no lado da bola.
Apesar de haver comportamentos para “ganhar o espaço” como na era de Jesus, a equipa de Torrent irá recorrer a outro tipo de abordagem quando tem a bola. Em vez de se movimentar constantemente para criar espaço como fazia Gerson, Bruno Henrique ou Gabriel Barbosa, Domenec Torrent irá pedir aos seus jogadores que esse espaço seja ganho através de vantagem posicional, e não tanto através de vantagem numérica. A equipa irá trocar a bola de forma apoiada até atrair o adversário e encontrar espaço para o passe mais importante: encontrar o avançado.
Essa é a missão de Dome Torrent: fazer com que a sua equipa encontre o seu jogador mais avançado através de um passe vertical. Quando esse passe não é possível, a equipa movimenta a bola para fazer mover os adversários e encontrar uma linha de passe. Assim que o passe entra, os jogadores no espaço central “saltam uma linha” para poder apoiar quem recebe a bola (a fazer de terceiro homem, como é conhecido), e é desta maneira que a equipa avança no terreno em qualquer área do campo. No vídeo seguinte, podemos ver alguns exemplos dessas combinações através de passes verticais, apoios em “parede” e combinações rápidas que tornam o jogo imprevisível e muito difícil de parar para quem defende.
Mas e se o tal espaço não for ganho?
Cada vez mais vemos equipas bem preparadas tacticamente, com excelentes recursos defensivos e muito difíceis de superar quando jogam com um bloco muito recuado. Tal como muitos outros treinadores, as equipas de Dome Torrent têm outros recursos para além do seu “plano A” para jogar dentro do bloco adversário. No meio-campo ofensivo, quando a linha de passe vertical está bloqueada ou bem defendida, o objetivo passa, mais uma vez, por atrair adversários:
- Condução de bola para desbloquear marcações
- Contra-movimentos na última linha defensiva para criar confusão nos defesas (ou acompanham o movimento de aproximação, ou abrem espaço entre linhas)
Sempre com pelo menos dois jogadores a realizar os tais movimentos contrários , este processo requer muita coordenação e diferentes opções para o portador da bola, mas quando é bem executado torna-se muito difícil de parar. QUem não se lembra daqueles passes na diagonal de Messi para Jordi Alba no Barcelona? Ou de Xavi para Daniel Alves? Nos NYCFC, vimos várias vezes o mesmo tipo de jogadas, com vários homens a surgir nas costas da defesa e apoiar na área contrária, criando muito perigo e várias situações de golo:
Para terminar: desconstruindo um mito sobre o “Tiki Taka”
“Jogar bem não é passar a bola a toda a hora. (Jogar bem) é controlar tudo o que se passa no jogo a qualquer altura. Às vezes precisas de controlar a bola, outras vezes precisas de jogar rápido. Isso, para mim, é jogar bem”. Estas são declarações de Torrent sobre o que é jogar bem, na sua opinião. Contrariando um pouco aquilo que normalmente se diz do seu mentor Pep Guardiola, o treinador do Flamengo também já referiu que, tal como Pep, não pensa no jogo só como o Tiki-Taka, que tem tido interpretações bastante erradas pelo mundo fora daquilo que era a ideia dos treinadores espanhóis quando implementaram esta ideia. “As equipas de Pep utilizam a transição a toda a hora. 50% dos seus golos no Manchester City foram através de transições rápidas após recuperar a bola”, referiu Torrent.
Tal como as equipas de Pep, também os NYCFC sabiam aproveitar muito bem o momento de desequilíbrio da equipa contrária quando perdia a bola. Foram vários os golos e situações de perigo criadas através de transições, sempre “abrindo o campo” com jogadores nos corredores, explorando o espaço da melhor maneira e sendo agressivos no momento de acelerar:
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